Dia Raro

 


Hoje é um desses raros dias —
acordei feliz, sem razão precisa.
O corpo dormiu oito horas e 30 minutos,
e a alma, talvez, um pouco mais.

Levantei-me apenas uma vez, para fazer necessidade fisiológica,
para lembrar que ainda sou matéria.
Depois voltei ao sonho,
que é o lugar onde o ser se esquece de ser.

Saí às dez horas para o mundo. Fui às compras,
essas pequenas viagens do cotidiano
em que o homem comum se encontra consigo
entre o peso das frutas, dos cereais e o preço do pão.

Agora estou de volta.
O sol brilha com lucidez de artista,
e o céu, com suas nuvens misturadas,
desenha uma aquarela em movimento.

Há azul em camadas, há branco em transição,
há vapor que dança invisível —
tudo tão simples, tão vasto,
como a própria ideia de existir.

Talvez a felicidade seja isto:
um instante em que o olhar vê o mundo
sem o filtro das dores passadas,
sem a pressa do que ainda virá.

Hoje o dia está lindo, e basta.
O resto — o sentido, o destino, o amanhã —
ficam suspensos, como nuvens,
numa opacidade de 70% entre o real e o sonho.

 




FRANK BARROSO

12.10.2025

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