Mapa mostra situação das ciclovias e ciclofaixas de Uberlândia

 


Município soma 141,4 km de infraestrutura cicloviária, mas enfrenta desafios de integração e segurança.

Uberlândia conta hoje com 141,4 km de ciclovias e ciclofaixas. Do total, 110,8 km são ciclovias e 30,6 km ciclofaixas, segundo dados atualizados até 19 de setembro de 2025.

As informações estão no Mapa das Ciclovias e Ciclofaixas de Uberlândia, elaborado pelo geógrafo urbanista Frank Barroso, pesquisador de mobilidade urbana e diretor do Instituto Pró Cidade Futura. O documento mostra a distribuição da rede cicloviária pela cidade, com base em levantamento iniciado em 2013.

Estrutura do mapa

O mapa utiliza como base o OpenStreetMap OSM 2024. Ele apresenta curvas de nível de 10 metros e delimita o perímetro urbano. Além das ciclovias, exibe os principais corredores viários, áreas verdes, parques e cursos d’água, como o Rio Uberabinha e seus afluentes.

Segundo Barroso, o objetivo é oferecer uma referência tanto para ciclistas quanto para gestores públicos. “O mapa é uma ferramenta de planejamento. Ele mostra onde a infraestrutura existe, mas também onde faltam conexões e investimentos”, explicou.

Frase recorrente

Entre ciclistas, é comum ouvir que as ciclovias da cidade “levam do nada a lugar nenhum”. A percepção decorre da fragmentação da rede. Antes da construção da ciclovia da Avenida Rondon Pacheco, esse cenário era ainda mais evidente.

O novo levantamento busca detalhar a situação. Cada via foi fotografada, medida e georreferenciada. O estudo levou em conta critérios técnicos, como continuidade, linearidade, condições do pavimento, limpeza, ligação com o sistema viário, função da via, existência de obstáculos, conflitos com pedestres e automóveis, sinalização e segurança viária.

Avaliação de segurança

A segurança nas interseções foi analisada de acordo com três aspectos principais:

  1. Sinalização vertical – presença de placas de “Pare” direcionadas a ciclistas.
  2. Sinalização horizontal – marcações no solo indicando paradas e travessias.
  3. Faixas de pedestre e ciclofaixas – traçados que garantam previsibilidade a motoristas.

Em muitos trechos, não há sinalização que indique o sentido de circulação. Quando a ciclovia possui mais de 2,5 metros de largura, o estudo considerou que ela é bidirecional, conforme critérios técnicos do GEIPOT (2011).

Divisão por setores

A malha cicloviária da cidade está distribuída da seguinte forma:

  • Setor Sul: 42 km
  • Setor Leste: 33,4 km
  • Setor Oeste: 33,2 km
  • Setor Norte: 16,4 km
  • Setor Central: 15,8 km

O Setor Sul concentra a maior extensão de infraestrutura. Porém, grande parte dela tem baixa utilização. A explicação está na forma como os loteamentos recentes construíram ciclovias sem integração com o sistema viário.

Barroso aponta falhas. “Essas vias são feitas sem fiscalização. Não têm sinalização adequada, não seguem critérios técnicos e muitas vezes não estão nos trajetos reais dos ciclistas”, afirmou.

Setor Central

Com 15,8 km de ciclovias, o Setor Central abriga a mais conhecida da cidade: a da Avenida Rondon Pacheco. Ela concentra fluxo elevado, mas apresenta problemas. O pavimento está desgastado, a sinalização é insuficiente e não há bicicletários.

Pedestres e corredores utilizam a via, gerando conflitos. As calçadas, tomadas por mesas de bares e restaurantes, obrigam pedestres a andar pela ciclovia.

Outra rota central está às margens do Rio Uberabinha, no bairro Oswaldo Rezende. Apesar de bem localizada, também sofre com a falta de integração.

Setor Leste

O Setor Leste soma 33,4 km e registra a maior taxa de deslocamentos por bicicleta. A região concentra a primeira micro-rede cicloviária da cidade, com conexões entre a sede da prefeitura, avenidas Anselmo Alves, Rui de Castro Santos, Sacadura Cabral, Vicente Sales e Solidariedade.

Ciclofaixa na Avenida Solidariedade, bairro Residencial Integração

Essa rede permite acesso ao Parque do Sabiá e a serviços essenciais. No entanto, alguns trechos ainda carecem de melhorias. A ciclofaixa da Avenida Solidariedade, por exemplo, é considerada insegura e desconfortável.

A Associação dos Ciclistas de Uberlândia defende uma reformulação. “A retirada do canteiro central para implantação de uma ciclovia bidirecional de 3 metros seria a solução”, propôs a entidade em nota.

Outro destaque é a Avenida Zulma Costa Abdala, que funciona como rota de saída de trabalhadores. Pesquisa realizada em 2016 registrou fluxo de 520 ciclistas em apenas 12 horas.

Setor Oeste

O Setor Oeste possui 33,2 km de ciclovias e ciclofaixas, muitas instaladas em fundos de vale. Entre elas estão as rotas do Parque Linear do Rio Uberabinha, dos córregos do Óleo e Guaribas.

A ciclofaixa da Avenida Aldo Borges Leão é uma das mais problemáticas, com histórico de acidentes. Já as ciclovias da Alameda José de Almeida e da Avenida José Fonseca e Silva apresentam bom pavimento, mas baixa utilização.

Nos bairros Palmeiras e Planalto, onde há alta demanda por bicicletas, a infraestrutura é praticamente inexistente.

No Residencial Pequis, novas ciclovias foram construídas com bom pavimento, mas em vias marginais, o que limita seu uso para deslocamentos cotidianos.

Setor Norte

O Setor Norte tem 16,4 km de ciclovias, mas enfrenta desafios semelhantes. A rede é desconectada, dificultando a utilização para transporte diário.

Principais falhas

O estudo aponta três problemas centrais:

  1. Fragmentação da rede – a falta de continuidade obriga ciclistas a dividir espaço com veículos em trechos perigosos.
  2. Sinalização precária – ausência de placas, marcas de solo e orientações claras.
  3. Conflitos de uso – pedestres e ciclistas dividem espaços inadequados.

Exemplo citado no relatório é a ciclovia da Avenida Rondon Pacheco, onde uma árvore invade a pista, oferecendo risco de acidentes.

Impactos para o ciclista

Para muitos usuários, as ciclovias não são opção viável no deslocamento diário. Estão em locais de difícil acesso, como fundos de vales, ou carecem de rampas e guias rebaixadas.

“Uma boa rede deve ser contínua, segura e integrada. Em Uberlândia, o que temos são trechos isolados”, avaliou Barroso.

Histórico e legislação

O mapeamento teve início em 2013. Em 2010, a Lei nº 10.686 já obrigava novos loteamentos a construírem ciclovias. No entanto, sem planejamento integrado, muitas delas ficaram sem utilização.

A Comissão do Plano Diretor Cicloviário, em 2016, mostrou que o bairro São Jorge tinha a maior taxa de mobilidade por bicicleta, mesmo contando com apenas uma ciclovia formal.

Desafios e perspectivas

O levantamento conclui que Uberlândia precisa de uma rede integrada. Isso exige uniformidade na infraestrutura, padronização da sinalização e maior fiscalização.

“Não existe um planejamento efetivo porque a mobilidade cicloviária ainda não é prioridade do poder público municipal”, criticou Barroso.

Especialistas defendem que a expansão deve priorizar vias arteriais, iluminação adequada e continuidade dos traçados.

Enquanto isso, ciclistas seguem enfrentando problemas diários, como trechos interrompidos, ausência de segurança em cruzamentos e estruturas pouco funcionais.

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