O desenvolvimento de áreas urbanas que facilitam a caminhada
— conectando bairros residenciais a locais como mercados, escolas e pontos de
ônibus — promove a atividade física e a saúde da comunidade (Samuels et al.,
2010). Diversos estudos demonstram que é possível aumentar a distância
percorrida por pedestres ao criar rotas mais atraentes e seguras (Rodríguez et
al., 2014).
Em comunidades de baixa renda, em particular, a melhoria da
caminhabilidade está diretamente ligada ao aumento do acesso e consumo de
alimentos frescos, além de mais atividade física (Samuels et al., 2010). Uma
pesquisa em cinco bairros de baixa renda mostrou que a proximidade de trilhas
para caminhada ou ciclismo se correlacionava positivamente com a prática de
mais de 30 minutos de caminhada diária e com o uso de serviços comunitários,
como clínicas de saúde. Curiosamente, a mesma proximidade mostrou uma correlação
negativa com o tabagismo (Pierce, Denison, Arif & Rohrer, 2006).
A infraestrutura urbana desempenha um papel crucial na saúde
geral de uma comunidade. A caminhabilidade não depende apenas de
calçadas e faixas de pedestres, mas também de fatores como a estética e a
iluminação de ruas e edifícios. Sem um ambiente seguro e convidativo que
incentive a atividade física, as comunidades podem enfrentar repercussões
físicas e mentais negativas (Christian et al., 2017; Sarkar et al. 2017).
Apesar da disponibilidade de recursos e áreas favoráveis à
caminhada, percepções negativas e a distribuição desigual desses recursos podem
desincentivar o uso (Steinmetz et al., 2015). A ausência de caminhos acessíveis
e atraentes pode acabar reforçando estilos de vida pouco saudáveis. Por outro
lado, o desenvolvimento de infraestruturas como passarelas e ciclovias, que
sejam contínuas e visualmente agradáveis, pode estimular comportamentos mais
saudáveis, como a prática de exercícios físicos (Rutt, Dannenberg &
Kochtitzky, 2008).
Benefícios Econômicos e Sociais da Melhoria da
Caminhabilidade
A melhoria da caminhabilidade traz consigo significativos
benefícios econômicos, incluindo o aumento da viabilidade financeira da
comunidade, a valorização de propriedades e a redução de gastos com saúde
(Boarnet, Greenwald e McMillan, 2008; Zapata-Diomedi et al., 2017). O custo da
doença (COI) — que engloba custos médicos, tratamentos e perda de vida saudável
— é um indicador importante nesse contexto. Doenças não transmissíveis como as
cardiovasculares e o diabetes tipo II, que podem ser prevenidas com a prática
de atividades físicas como caminhar, representam um enorme ônus econômico. Em
2010, o COI para essas duas doenças foi de US$ 863 bilhões e US$ 500 bilhões,
respectivamente (Bloom et al. 2011; CDC, s.d). Portanto, é de se esperar que os
esforços para criar ambientes mais caminháveis resultem em uma redução nos
custos gerais para indivíduos e sistemas de saúde.
Um estudo que analisou os benefícios de melhorias na
caminhabilidade em um bairro de 5.000 pessoas revelou que elevar a pontuação de
caminhabilidade do percentil 50 para o 95 (em nível nacional) gerou um
benefício econômico per capita de US$ 26.221. Esse valor foi calculado com base
em uma combinação de fatores: diminuição da morbidade e mortalidade,
valorização de imóveis, crescimento de negócios locais, aumento das vendas e
mais oportunidades de emprego (Boarnet, Greenwald e McMillan, 2008).
Uma pesquisa em Washington D.C., que considerou os níveis de
renda familiar, mostrou que casas localizadas em comunidades com alta
caminhabilidade valiam, em média, US$ 82 a mais por metro quadrado do que as de
bairros com caminhabilidade mediana (Leinberger e Alfonzo, 2012). Outro estudo,
realizado em Charlotte, na Carolina do Norte, demonstrou que um aumento de 17%
na pontuação de caminhabilidade elevou o valor das propriedades em 12% (Litman,
2018).
Além dos benefícios econômicos, a caminhabilidade também
fortalece o capital social — os valores e relacionamentos que
impulsionam o crescimento social e econômico de uma comunidade (Johnson, 2016).
O aumento da capacidade de caminhada em uma área cria mais oportunidades de
interação e de criação de laços entre os moradores (Rogers et al., 2010). Os
relacionamentos comunitários influenciam não apenas a felicidade, mas também a
longevidade e a saúde das pessoas (Mineo, 2017). Um estudo recente de 80 anos
sobre o desenvolvimento adulto mostrou que a satisfação nos relacionamentos é o
preditor mais preciso de saúde, com as pessoas que relataram maior satisfação
aos 50 anos também sendo as mais saudáveis aos 80 (Mineo, 2017).
A segurança também é um aspecto social fundamental da
caminhabilidade. Ao reduzir o tráfego de carros em bairros, os moradores tendem
a assumir mais responsabilidade por suas ruas. Isso resulta em maior vigilância
e na percepção de uma comunidade mais segura (Wright, 2018). Todos esses
fatores levam a um senso de comunidade mais forte, maior capital social e
aumento da atividade física entre a população (Wright, 2018).
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