O Inconsciente Coletivo e sua Origem

 


Olá, sejam bem-vindos ao meu blog. Vamos mergulhar nos conceitos de Carl Jung. Vamos analisar a distinção entre o inconsciente pessoal e o coletivo, além de desvendar a fascinante ideia dos arquétipos.

No início do livro Os arquétipos e o inconsciente coletivo (; [tradução Maria Luíza Appy, Dora Mariana R. Ferreira da Silva]. - Perrópolis, RJ : Vozes, 2000), Jung faz uma observação crucial sobre como o conceito de inconsciente coletivo se tornou popular. Ele compara sua trajetória à do próprio conceito de inconsciente, que, após ser ignorado por muito tempo, reapareceu na psicologia médica.

Jung começa diferenciando sua visão da de Freud. Para Freud, o inconsciente é pessoal. Ele é um depósito de conteúdos reprimidos e esquecidos, como desejos, medos e memórias de nossa vida individual. É a nossa história particular que se esconde ali. O texto destaca que, mesmo quando Freud observou "formas de pensamento arcaico-mitológicas", ele ainda via o inconsciente como algo fundamentalmente individual.

Jung, no entanto, propõe uma camada mais profunda. Ele nomeia essa camada de inconsciente coletivo. A palavra "coletivo" é usada intencionalmente para sublinhar que esse estrato psíquico não é individual. Ele é universal, compartilhado por todos os seres humanos. Pensem nisso como um "substrato psíquico comum" que todos nós herdamos, algo que é inato e não adquirido através da experiência pessoal.

 

Arquétipos: Os Conteúdos do Inconsciente Coletivo

Se o inconsciente pessoal é preenchido por complexos emocionais (como o Complexo de Édipo, por exemplo), o inconsciente coletivo é habitado pelos arquétipos.

O texto explora a etimologia da palavra "archetypus" (arquétipo), mostrando que ela já era usada por filósofos como Filo Judeu e Irineu para se referir a modelos primordiais. Jung adota o termo para descrever "tipos arcaicos" ou "primordiais", que são imagens e padrões de pensamento universais, presentes desde os tempos mais antigos.

Ele compara os arquétipos às représentations collectives de Lévy-Bruhl, que são as figuras simbólicas das culturas primitivas. A diferença fundamental é que o arquétipo, para Jung, é o conteúdo psíquico bruto, que ainda não foi elaborado pela consciência.

Em outras palavras, o arquétipo é a estrutura inata, a potencialidade, enquanto o mito, o conto de fadas e as religiões são as manifestações concretas e conscientizadas desses arquétipos. Por exemplo, a figura do "herói" é um arquétipo. No entanto, ela se manifesta de formas diferentes em cada cultura: Hércules na mitologia grega, a história de Jesus Cristo, ou mesmo heróis modernos como Luke Skywalker. Eles são a "fórmula historicamente elaborada" de um mesmo padrão psíquico universal.

 A Projeção dos Arquétipos na Realidade

Jung argumenta que o homem primitivo não estava interessado em explicações científicas para a natureza. Em vez disso, sua alma inconsciente projetava o drama psíquico interno nos fenômenos externos. O sol nascendo e se pondo, por exemplo, não era apenas um evento físico; era a representação do destino de um herói ou de um deus que, na verdade, vivia na alma humana.

Essa projeção radical é o que levou à criação dos mitos. A astrologia, mencionada no texto, é um exemplo fascinante de como essa projeção ainda persiste, mesmo com a ciência moderna. A crença na influência dos astros sobre a personalidade é, para Jung, a continuação de uma antiga subjetividade onde a psique humana se espelha na natureza.

 O Dogma Religioso como Elaboração Simbólica

Jung também discute o papel da religião na elaboração dos arquétipos. As religiões, com seus dogmas e rituais, oferecem uma forma de organizar e dar sentido a experiências psíquicas poderosas e, por vezes, assustadoras.

O exemplo de Nicolau de Flüe, um místico suíço, é ilustrativo. Ele teve uma visão tão aterrorizante da "Trindade" que seu rosto ficou desfigurado de medo. Para Jung, essa foi uma experiência direta e não mediada de um arquétipo. A visão era tão intensa que ameaçava desintegrar sua psique.

A "elaboração" que ele fez dessa visão, usando diagramas místicos e a teologia da época, transformou a experiência caótica e aterradora em uma imagem dogmática e compreensível da Santíssima Trindade. O símbolo dogmático, portanto, serve como uma "forma suportável" para a experiência do divino, protegendo o indivíduo de sua intensidade avassaladora. Sem essa elaboração, Nicolau poderia ter se tornado um herege ou um lunático. O dogma religioso age como uma mandala, um "círculo protetor" que ajuda a psique a se ordenar e a se manter equilibrada diante da força esmagadora do inconsciente coletivo.

O texto conclui que o dogma religioso é útil porque formula uma experiência psíquica perigosa de uma forma que a torna compreensível e, ao mesmo tempo, preserva o seu significado transcendente.

Em suma, podemos dizer que a grande contribuição de Jung, como vimos neste texto, é a ideia de que a psique humana não é uma "tábula rasa" no nascimento. Ela carrega uma herança ancestral na forma do inconsciente coletivo, que se manifesta através dos arquétipos. Esses arquétipos, por sua vez, moldam nossa percepção do mundo e são a fonte primária de mitos, contos de fadas e religiões.

Na perspectiva da psicologia analítica de Jung, a "sede por dominar" nas redes sociais pode ser compreendida como a manifestação de certos arquétipos que buscam poder, reconhecimento e controle. É importante lembrar que os arquétipos são padrões universais de comportamento e imagem, e que eles se expressam de forma diferente em cada indivíduo e em cada contexto.

Os arquétipos que mais se ligam a essa dinâmica de dominação nas redes sociais são:

 O Arquétipo do Governante (ou Rei/Rainha)

Este é o arquétipo mais diretamente relacionado com o desejo de dominação. O Governante busca controle, ordem e poder. Nas redes sociais, isso se manifesta na necessidade de ser uma "autoridade" em um determinado nicho, de ter uma grande quantidade de seguidores e de influenciar a opinião pública. O perfil do Governante é meticulosamente curado para transmitir uma imagem de sucesso, competência e estabilidade. O sucesso para ele é medido em números: curtidas, compartilhamentos e, especialmente, o número de seguidores. A perda de controle sobre a narrativa ou a diminuição da influência pode gerar uma grande ansiedade.

 

O Arquétipo do Herói

O Herói é impulsionado pela necessidade de provar seu valor e de superar desafios. Nas redes sociais, esse arquétipo pode se manifestar de várias formas. O indivíduo pode dominar a atenção ao se posicionar como um defensor de uma causa, lutando contra "vilões" (sejam eles pessoas, ideias ou instituições). O Herói busca validação através de atos de coragem — ou da exibição deles. A "dominação" aqui não é sobre controle, mas sobre ser reconhecido como o mais forte, o mais corajoso ou o que mais se sacrifica. O Herói digital pode ser um criador de conteúdo que se arrisca para ganhar visibilidade ou alguém que se coloca no centro de debates para provar seu ponto de vista.

 

O Arquétipo do Mago (ou Mestre)

Este arquétipo deseja transformar o mundo, mas o faz através do conhecimento e do poder de convencimento. Nas redes sociais, o Mago domina ao se posicionar como o detentor de um saber especial ou de uma "chave" para o sucesso. Ele pode ser um guru de finanças, um coach de vida ou um especialista que oferece soluções mágicas para os problemas do público. Sua influência vem da capacidade de criar a ilusão de que ele tem o controle sobre forças invisíveis ou processos complexos. O Mago usa sua plataforma para criar uma comunidade de "discípulos" que confiam em sua sabedoria e que se sentem transformados por seus ensinamentos.

Observações Importantes

É crucial entender que a sede por dominação nas redes sociais não se restringe a um único arquétipo. Muitas vezes, diferentes arquétipos atuam em conjunto. Por exemplo, um perfil pode usar o Herói para se destacar, mas empregar o Mago para consolidar sua autoridade e o Governante para manter seu público fiel e sob controle. Além disso, a psicanálise moderna também aponta para o papel do narcisismo e do ego na busca por reconhecimento e validação, o que é amplificado pelo ambiente das redes sociais, onde a autoimagem é constantemente exposta e avaliada por terceiros.

 

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