No vasto campo do conhecimento científico, a busca pela
verdade não se limita apenas ao resultado final de uma investigação; o caminho
percorrido para alcançá-la, ou seja, o método, é igualmente crucial. Em certo
sentido, a validade e a confiabilidade do conhecimento obtido dependem
intrinsecamente do rigor e da adequação dos métodos empregados pelo cientista.
Na ciência política, essa premissa ganha ainda mais relevância, dada a
complexidade e a natureza multifacetada de seu objeto de estudo.
O método (do grego methodos, que significa
"caminhando ao longo do caminho" ou "escolhendo o caminho
certo") pode ser definido como um sistema de regras e técnicas para
estudar quaisquer objetos a fim de encontrar a verdade objetiva. Ele
fornece uma estrutura sistemática para a observação, a coleta de dados, a
análise e a interpretação, garantindo que a pesquisa seja realizada de forma
lógica, coerente e verificável.
Os métodos de pesquisa política podem ser categorizados em
três grandes grupos, que atuam de forma complementar e interligada:
- Métodos
     Lógicos Gerais: São métodos universais de cognição científica,
     desenvolvidos no âmbito da filosofia (teoria do conhecimento), aplicáveis
     tanto na cognição teórica quanto empírica em diversas disciplinas.
 - Métodos
     de Pesquisa Teórica: Envolvem abordagens e modelos conceituais para
     construir explicações sobre fenômenos políticos complexos.
 - Métodos
     de Seleção de Dados Empíricos: Referem-se às técnicas específicas para
     coletar informações e evidências do mundo real.
 
Este artigo se aprofundará em cada um desses grupos,
explorando suas particularidades, aplicações na ciência política e a
interrelação entre eles.
Os métodos lógicos gerais são as ferramentas cognitivas mais
básicas e fundamentais, subjacentes a toda investigação científica. Eles
fornecem a estrutura mental pela qual os cientistas organizam e processam
informações, independentemente da disciplina específica.
1.1. Abstração
A abstração é talvez a técnica cognitiva mais comum e
universalmente empregada em todas as ciências. No processo de abstração, o
pesquisador fixa mentalmente alguma propriedade essencial e importante de um
objeto em uma determinada situação cognitiva, abstraindo-se de todas as outras
propriedades. O propósito dessa "distração mental" é simplificar
a situação, isolar variáveis ou características específicas e estudar processos
em sua forma mais pura ou concentrada.
Por exemplo, ao estudar o conceito de "poder
político", um cientista político pode abstrair-se das particularidades de
um líder específico ou de um país em particular e focar nas características
essenciais da capacidade de influenciar decisões ou alocar recursos na
sociedade. O resultado da abstração é a criação de abstrações, conceitos de
um certo nível e propósito, que permitem a generalização e a construção de
teorias. Essas abstrações formam os blocos de construção do conhecimento
teórico, permitindo que a mente humana lide com a complexidade do mundo ao
reduzir fenômenos intrincados a seus elementos mais cruciais.
1.2. Análise e Síntese
Intimamente relacionados à abstração, os métodos de análise
e síntese são operações cognitivas complementares e interdependentes:
- Análise:
     É a divisão sequencial de um objeto integral em subsistemas e elementos
     com o propósito de seu estudo abrangente. Na ciência política, isso
     pode significar decompor um sistema político em seus subsistemas
     (executivo, legislativo, judiciário), ou um processo eleitoral em suas
     etapas (formação de partidos, campanhas, votação, contagem). A análise
     permite examinar as partes de um todo em detalhe, entendendo suas
     características intrínsecas e como elas operam individualmente.
 - Síntese:
     É a unificação mental de partes previamente selecionadas de um objeto
     em um sistema de conhecimento teórico. Após analisar os componentes, a
     síntese recombina essas partes para compreender como elas interagem e
     formam um todo coeso e funcional. Por exemplo, após analisar as funções de
     cada poder em um governo, a síntese buscaria entender como a interconexão
     desses poderes contribui para a governabilidade e a estabilidade
     democrática. Análise e síntese são um ciclo contínuo na pesquisa, onde
     cada uma serve de premissa para a outra, revelando a complexidade do
     objeto de estudo.
 
1.3. Indução e Dedução
A análise e a síntese estão, por sua vez, associadas aos
métodos de indução e dedução, que representam os dois principais
caminhos lógicos para a inferência científica:
- Indução:
     É um método de pesquisa e um método de raciocínio no qual a conclusão
     geral é construída com base em premissas particulares. Na ciência
     política, isso significa observar uma série de eventos ou comportamentos
     específicos (dados empíricos) e, a partir deles, inferir uma generalização
     ou um padrão. Por exemplo, se observamos que em vários países com altos
     níveis de desigualdade social, há uma maior incidência de protestos
     sociais, podemos induzir uma hipótese geral sobre a relação entre
     desigualdade e instabilidade. O resultado indutivo é sempre incompleto
     e probabilístico; as conclusões são prováveis, mas não garantidas, pois se
     baseiam em uma amostra de observações.
 - Dedução:
     É um método de investigação e um método de raciocínio por meio do qual
     uma conclusão particular decorre de premissas gerais de acordo com as leis
     da lógica. Aqui, partimos de uma teoria ou hipótese geral e a
     aplicamos a casos específicos para testar sua validade. Por exemplo, se
     uma teoria geral postula que a democracia é mais estável em países com
     forte classe média, podemos deduzir que um país com essas características
     tem maior probabilidade de manter sua democracia. A dedução, se as
     premissas forem verdadeiras e a lógica for válida, leva a conclusões
     certas. A indução é essencial para a formação de hipóteses, enquanto a
     dedução é crucial para seu teste e refinamento.
 
1.4. Analogia
A analogia (correspondência, semelhança) é um método
de cognição no qual, com base na semelhança de objetos em algumas
características, eles concluem sobre sua semelhança em outras características.
Na ciência política, a analogia permite transferir conhecimentos ou
entendimentos de um domínio para outro. Por exemplo, pode-se usar uma analogia
biológica para descrever o funcionamento de um sistema político (onde as
"partes" do corpo seriam as "instituições" do sistema). Ou,
pode-se comparar a dinâmica de negociação em um conselho municipal com a de uma
reunião internacional, inferindo que princípios de barganha se aplicam em ambos
os contextos. A analogia é útil para gerar novas ideias e hipóteses, mas requer
cautela, pois nem todas as semelhanças superficiais indicam relações profundas
ou causais.
1.5. Modelagem
A modelagem é o estudo de um objeto (original)
criando e estudando sua cópia (modelo) que substitui o original em
determinados aspectos de interesse do pesquisador. Modelos podem ser
físicos, gráficos, conceituais ou matemáticos. Na ciência política, a modelagem
é frequentemente usada para simplificar a realidade complexa, isolar
variáveis-chave e simular processos. Por exemplo, a teoria dos jogos cria
modelos matemáticos de interações estratégicas entre atores para prever
resultados. Mapas eleitorais são modelos gráficos que representam a
distribuição geográfica do voto. Modelos teóricos da democracia representam
idealizações de como um sistema democrático deveria funcionar. A modelagem
permite que os cientistas manipulem variáveis e cenários de forma controlada, o
que seria impossível ou antiético na realidade.
1.6. Classificação
A classificação é a divisão de todos os objetos em
estudo em grupos separados, de acordo com algumas características que são
importantes para o pesquisador. Na ciência política, a classificação é
ubíqua. Governos são classificados em democracias, autocracias, monarquias;
sistemas partidários em bipartidários, multipartidários; ideologias em
liberais, conservadoras, socialistas. A classificação organiza o vasto e
diversificado mundo dos fenômenos políticos, tornando-o mais compreensível e
manejável para análise comparativa e generalização teórica. Uma boa
classificação deve ser exaustiva (todos os objetos cabem em alguma categoria) e
mutuamente exclusiva (nenhum objeto se encaixa em mais de uma categoria).
1.7. Métodos Teóricos Superiores (Principalmente no Nível
de Cognição Teórica)
Existem métodos lógicos gerais que são utilizados
predominantemente no nível da cognição teórica, focando na construção de
constructos conceituais e na reconstrução da essência dos fenômenos:
- Método
     Histórico e Lógico: Este par de métodos é crucial para entender o
     desenvolvimento dos fenômenos políticos.
 - O método
      histórico envolve a descrição da história factual do
      desenvolvimento dos objetos em toda a sua diversidade. Ele traça a
      trajetória real dos eventos, instituições e ideias ao longo do tempo.
 - O método
      lógico é uma reconstrução mental da história de um objeto, livre
      de acidentes e detalhes insignificantes, revelando a lógica objetiva de
      seu desenvolvimento. Enquanto o método histórico se preocupa com o
      "como aconteceu", o método lógico busca o "porquê"
      por trás da sequência de eventos, identificando as forças motrizes e os
      princípios subjacentes. Juntos, eles permitem uma compreensão mais
      profunda da evolução política, separando o essencial do acidental.
 - Idealização:
     É o processo mental de criar objetos ideais, alterando as propriedades
     de objetos reais no processo de transição limitante. Nesse caso, uma
     propriedade é considerada absoluta. Na ciência política, a idealização é
     fundamental para a construção de "tipos ideais" (como a
     "democracia liberal" ou a "burocracia weberiana"), que
     servem como pontos de referência conceituais. Eles não existem
     perfeitamente na realidade, mas ajudam a analisar e comparar os sistemas
     políticos reais, compreendendo suas variações em relação ao ideal. Um
     "eleitor racional", por exemplo, é uma idealização.
 - A
     Ascensão do Abstrato ao Concreto: Este método se refere a uma reprodução
     mental e teórica da essência do objeto em estudo. Começa-se com
     abstrações simples (conceitos gerais), move-se para categorias mais
     complexas e interconectadas, e finalmente retorna a uma compreensão rica e
     multifacetada do objeto real (o "concreto"), mas agora com uma
     profundidade teórica que antes não existia. É um processo de elaboração
     conceitual que culmina em uma teoria abrangente que captura a complexidade
     do fenômeno político.
 
1.8. O Caráter Orientado por Valores e a Estrutura da
Pesquisa em Ciência Política
Uma característica distintiva das ciências sociais,
incluindo a ciência política, é seu caráter orientado por valores, que
afirma a natureza axiológica dos fatos políticos. Ao contrário das ciências
naturais, onde a separação entre observador e observado, e entre fatos e
valores, é mais direta, na ciência política, os valores do pesquisador e os
valores inerentes aos próprios fenômenos políticos (justiça, liberdade,
igualdade) são inescapáveis.
Considerando essa dimensão axiológica, a estrutura ideal da
pesquisa em ciência política, conforme J. Galtung e outros, integra valores e
dados empíricos na construção da teoria. A investigação deve incluir tanto a
coleta de dados quanto a reflexão sobre valores, culminando em resultados
expressos em teoria. A sequência lógica de operações seria:
- Formulação
     de hipóteses e elaboração do estudo: Definir perguntas e pressupostos
     iniciais.
 - Correlação
     de hipóteses com valores: Reconhecer e explicitar como os valores
     (tanto do pesquisador quanto os intrínsecos ao fenômeno) influenciam a
     formulação das hipóteses e a escolha do objeto de estudo.
 - Testar
     hipóteses com dados empíricos: Coletar e analisar evidências do mundo
     real para verificar a validade das hipóteses.
 - Generalização
     de dados empíricos: A partir dos dados específicos, buscar padrões e
     tendências que permitam formulações mais amplas.
 - Conclusões,
     teoria: Construir um corpo de conhecimento sistemático que explique os
     fenômenos observados e teste as hipóteses.
 - Determinação
     da esfera de verdade da teoria: Estabelecer os limites, as condições e
     o escopo sob os quais a teoria é válida.
 - Correlação
     da teoria com os valores, crítica das relações sociais e políticas
     existentes, definição de problemas, formulação de formas de resolvê-los
     com base na teoria: Este é o estágio mais crucial para a relevância da
     ciência política. A teoria não deve ser um fim em si mesma, mas uma
     ferramenta para avaliar a realidade política, identificar problemas
     sociais e políticos e propor soluções baseadas no conhecimento obtido.
 
É essencial enfatizar que a teoria (do grego theoria,
que significa "visão", "contemplação") é a forma mais
elevada de conhecimento. O método é o principal meio de construção de modelos
teóricos destinados a explicar as características essenciais dos processos
políticos. A escolha e aplicação dos métodos de pesquisa em ciência política
dependem da compreensão das especificidades do objeto de cognição, sua
estrutura e a lógica da pesquisa. A correta correlação dos níveis teórico e
empírico de análise, e sua integração, torna-se um importante problema
metodológico para obter novos conhecimentos sobre o tema. Assim, métodos
empíricos e teóricos são distinguidos de acordo com a estrutura do conhecimento
científico e as duas etapas da pesquisa: empírica e teórica.
Os métodos teóricos na ciência política buscam construir
explicações sistemáticas e abrangentes para os fenômenos políticos, indo além
da mera descrição. Eles operam no nível da conceituação e da formulação de
modelos explicativos. A complexidade e multidimensionalidade dos objetos
políticos frequentemente exigem a combinação de vários métodos.
2.1. O Método do Sistema
O método do sistema ocupa atualmente um dos lugares
de liderança no conhecimento científico em geral e na ciência política em
particular. É amplamente utilizado no estudo de objetos complexos em
desenvolvimento, multinível e, via de regra, auto-organizados, como são os objetos
políticos.
Um sistema é um conceito científico geral que
expressa um conjunto de elementos que estão em relações e conexões entre si
e com o meio ambiente e formam uma certa unidade. Na abordagem sistêmica,
um objeto é considerado como um conjunto de elementos cuja interconexão
determina as propriedades integrais de um determinado conjunto.
David Easton é um dos grandes nomes da teoria de
sistemas na ciência política. Sua abordagem do "sistema político" o
descreve como um sistema aberto que recebe "inputs" (demandas e apoio
da sociedade), os processa e gera "outputs" (políticas públicas,
decisões), que por sua vez geram "feedback" que afeta os inputs
futuros.
Ao considerar objetos políticos complexos do ponto de vista
da metodologia da abordagem sistêmica, é possível revelar as diversas
conexões e relações dentro do próprio objeto (subsistemas, elementos) e sua
conexão com o ambiente externo, bem como a influência do ambiente nas
características do objeto em estudo. Assim, o método do sistema orienta os
pesquisadores a considerar os processos e fenômenos políticos como entidades
sociais abertas e autorreguladoras que interagem constantemente com o ambiente
externo.
O método do sistema baseia-se no uso de métodos lógicos
gerais como:
- Análise:
     A decomposição do todo do sistema em componentes (subsistemas,
     componentes, elementos) de diferentes níveis de complexidade. Por exemplo,
     analisar o sistema político brasileiro dividindo-o em subsistemas
     (legislativo, executivo, judiciário, partidário, eleitoral).
 - Síntese:
     A consideração das propriedades integrais do todo, que seus elementos
     constituintes não possuem isoladamente. Por exemplo, a capacidade de um
     sistema político em manter a estabilidade democrática é uma propriedade do
     todo, não de um único partido ou instituição.
 
2.2. Análise Estrutural-Funcional
A análise estrutural-funcional como método teórico de
cognição tem certa semelhança com a abordagem sistêmica, mas com um foco
particular. Ela se concentra em identificar os componentes do sistema como
um fenômeno integral (análise estrutural) e, crucialmente, na análise
funcional do objeto.
- Análise
     Estrutural: Lida com a "morfologia" do objeto em estudo,
     compilando um "registro" de seus elementos (detalhes) e conexões
     estáveis e reprodutíveis entre eles. Por exemplo, descrever a estrutura de
     um partido político: seus órgãos de decisão, hierarquia, regras internas.
 - Análise
     Funcional: É a especificidade e a característica distintiva desse
     método. O estudo funcional de um objeto (em particular, o político)
     pressupõe uma análise de seu funcionamento, dos mecanismos de
     reprodução da integridade política (o objeto como sistema). Não se
     reduz exclusivamente à análise das funções individuais de suas partes, mas
     pressupõe a correlação mútua dessas funções, a conexão ao longo da
     linha parte-parte (como o legislativo interage com o executivo), que não
     coincide com a conexão ao longo da linha parte todo (esta última é mais
     característica da abordagem sistêmica). Além disso, a análise funcional
     revela a forma de interconexão dos elementos do objeto, sua influência
     mútua, o que garante a reprodução da integridade.
 
Os elementos do sistema político em sua totalidade compõem a
estrutura complexa da esfera política da vida pública e determinam o desempenho
de certas funções no âmbito do todo social, a principal das quais é a função
de alcançar objetivos comuns para a sociedade (como manter a ordem, alocar
recursos, resolver conflitos). Gabriel Almond e James Coleman,
por exemplo, aplicaram o funcionalismo estrutural para analisar as funções
universais desempenhadas por diferentes estruturas políticas em diversos
países.
2.3. O Método Comunicativo Cibernético
O método comunicativo cibernético permite estudar a
política através do prisma dos fluxos de informação construídos sobre o
princípio da conexão reversa (feedback) e de uma rede de ações e mecanismos
comunicativos intencionais que garantem as relações entre aqueles que
governam e são gerenciados em todos os níveis das relações dentro da sociedade
e com o ambiente externo.
Inspirado na cibernética (o estudo de sistemas de controle e
comunicação), essa abordagem vê a política como um processo contínuo de troca
de mensagens, interpretação e resposta. Os métodos da abordagem comunicativa
exigem revelar as propriedades da política por meio do estudo das formas de
comunicação entre as pessoas que estão surgindo no espaço político, os contatos
significativos que se formam entre elas, a negociação de significados e a
construção de consenso ou conflito através da linguagem e dos símbolos. É a
base para estudos sobre opinião pública, propaganda, retórica política e o
papel da mídia. Karl Deutsch foi um pioneiro nesse campo, aplicando
conceitos cibernéticos à análise do sistema político como um sistema de
comunicação e aprendizado.
2.4. O Método de Comparação (Comparativo)
O método de comparação é uma operação cognitiva
baseada em julgamentos sobre a semelhança ou diferença de objetos. Com a
ajuda da comparação, suas características qualitativas e quantitativas são
reveladas. A principal condição para o uso desse método é a presença de uma
base comum (característica) pela qual os objetos em estudo são comparados.
As características a serem identificadas devem ser essenciais para essa
consideração, e os objetos comparados por um critério podem não ser comparáveis
por outro. Os sinais podem ter uma forma de conteúdo ou natureza funcional. Por
exemplo, o estudo das características específicas de certas instituições
políticas só é possível com base nas propriedades gerais dessas instituições.
- Método
     Histórico-Comparativo: Uma das variedades mais difundidas do método de
     comparação é o método histórico-comparativo. Com sua ajuda, são conhecidos
     vários estágios de desenvolvimento de um mesmo fenômeno (por exemplo,
     de um estado) ou fenômenos coexistentes que têm uma certa base comum.
     Baseado neste método, é possível identificar e comparar os níveis e
     determinar as tendências no desenvolvimento do fenômeno em estudo, as
     mudanças ocorridas. Em particular, é útil no estudo das formas de estado
     como um fenômeno em desenvolvimento, pois nos permite identificar os
     principais estágios de seu desenvolvimento e refletir sua evolução. Este
     método pode ser visto como uma ponte entre os métodos históricos e os
     comparativos.
 
Os métodos empíricos são as ferramentas para a coleta de
dados primários e secundários, permitindo que os cientistas políticos testem
suas hipóteses e construam teorias baseadas em evidências do mundo real.
3.1. Observação
A forma mais simples e acessível de coletar informações é a observação,
que é entendida como o registro direto de fenômenos e processos sociais por
uma testemunha ocular. É frequentemente usada para estudar formas de
comportamento de protesto: mítines, manifestações, greves, etc. Seu uso permite
realizar "reconhecimento" e refinar métodos para pesquisas mais
detalhadas e aprofundadas.
Para que a observação seja eficaz e minimamente tendenciosa,
ela requer:
- Objetivos
     de pesquisa corretamente formulados, de acordo com os quais é
     conduzida.
 - Cumprimento
     das regras de seleção do procedimento de observação (por exemplo,
     observação participante ou não participante, estruturada ou não
     estruturada).
 - Registro
     correto das qualidades do objeto observado, com uso de diários de
     campo, checklists ou sistemas de codificação.
 
As desvantagens significativas desse método são sua limitação
à estrutura de um único objeto (o que dificulta a generalização) e a subjetividade
da percepção do observador. Portanto, pesquisadores experientes são muito
cautelosos ao generalizar os dados obtidos usando esse método de pesquisa,
frequentemente utilizando-o como uma etapa exploratória ou complementar a
outros métodos.
3.2. Análise Documental
A análise documental é um método amplamente utilizado
para coletar informações primárias. Os cientistas consideram qualquer
informação registrada como um documento. Isso pode incluir textos,
manuscritos, livros, periódicos, fotografias, filmes, gravações magnéticas,
arquivos de computador, relatórios orais, dados estatísticos, etc.
- Tipos
     de Documentos por Status:
 - Oficiais:
      Incluem instruções administrativas, ordens, decretos, leis, informações
      estatísticas, atas de reuniões, discursos oficiais.
 - Não
      Oficiais: Como arquivos pessoais, diários, memórias, cartas,
      registros informais.
 - Tipos
     de Documentos por Fonte:
 - Primários:
      Nos quais os eventos são registrados diretamente (registros originais,
      resultados de observações brutas, transcrições de entrevistas).
 - Secundários:
      Que são uma generalização dos dados obtidos de documentos primários
      (relatórios de pesquisa, conclusões oficiais, informações estatísticas
      compiladas, artigos de revisão).
 
Na análise dos documentos, são levados em consideração: o grau
de autenticidade e confiabilidade, os motivos dos criadores dos
documentos (quem o escreveu, para quem, com que propósito), e as condições
para sua compilação (contexto histórico, político).
Análise de Conteúdo
Na ciência política, juntamente com outras ciências sociais,
é usado um método de análise de documentos como a análise de conteúdo.
Em um sentido amplo, a análise de conteúdo é uma característica quantitativa
e qualitativa das unidades de texto (palavras, símbolos semânticos,
expressões, temas, frases, parágrafos), a determinação de dependências entre
elas e a identificação de fragmentos de significado semelhante.
Existem abordagens quantitativas e qualitativas para a
análise de conteúdo:
- A abordagem
     qualitativa está focada em identificar a autoria, objetivos e
     condições para a criação do texto, buscando as nuances e os significados
     profundos.
 - A abordagem
     quantitativa é baseada na relação estatística de uma unidade de texto,
     na frequência de seu uso e na ordem de sua disposição, permitindo a
     contagem e a análise sistemática de padrões.
 
A primazia no desenvolvimento do método de análise de
conteúdo é frequentemente atribuída ao cientista político americano Harold
Lasswell. Com sua ajuda, são investigadas as comunicações, as atitudes de
massa e a consciência individual, as imagens de vários fenômenos (por exemplo,
como a mídia retrata um político ou um evento), a propaganda e o discurso
político.
3.3. Método de Avaliação de Especialistas
O método de avaliação de especialistas é um dos
métodos de pesquisa mais comuns, especialmente quando as informações são
escassas ou o fenômeno é complexo demais para ser totalmente capturado por
dados quantitativos. Sua essência é identificar as opiniões dos
especialistas mais autorizados em um determinado campo sobre uma determinada
situação, as razões de sua origem ou prever o desenvolvimento de eventos.
O grau de autoridade de um especialista é determinado com
base na frequência de menções de seu nome em círculos profissionais, trabalhos
científicos e opiniões de seus colegas. As técnicas para coletar informações de
especialistas incluem:
- Entrevistas
     em profundidade: Conversas estruturadas ou semi-estruturadas com
     especialistas para obter insights detalhados.
 - Discussões
     públicas organizadas entre especialistas: Mesas-redondas, painéis ou
     conferências onde especialistas debatem um tema.
 - Método
     Delphi: Um processo estruturado para obter e refinar opiniões de um
     grupo de especialistas através de várias rodadas de questionários anônimos
     e feedback, buscando um consenso.
 
Este método é valioso para cenários prospectivos, análise de
riscos e para preencher lacunas de dados empíricos diretos.
3.4. Método de Pesquisa (Survey)
O método de pesquisa (survey) é muito popular entre
os cientistas políticos, pois permite estudar as características objetivas e
subjetivas do objeto em estudo, como atitudes, crenças, comportamentos reportados
e dados demográficos.
A pesquisa como método de pesquisa social e política começou
a ser amplamente utilizada na década de 30 do século XX, com figuras como George
Gallup revolucionando o campo. Suas previsões eleitorais baseadas em
pesquisas eram altamente precisas e uma sensação científica, demonstrando o
potencial de generalização desse método.
Realizar uma pesquisa e processar seus resultados é uma
tarefa complexa que requer o cumprimento de certas regras e procedimentos. Os
dados obtidos podem ser distorcidos se os princípios básicos da preparação e
condução da pesquisa não forem seguidos. O mais importante deles é o princípio
da amostragem correta. Entende-se por amostra uma parte da população
em estudo, que possui as mesmas características e características da população
em geral, garantindo que os resultados da amostra possam ser extrapolados para
a população maior.
Dois tipos principais de pesquisas são frequentemente
usados:
- Questionários
     (pesquisa escrita): A comunicação entre o entrevistador e o
     entrevistado é mediada pelo questionário, que pode ser autoaplicado
     (online, por correio) ou administrado por um pesquisador.
 - Entrevistas
     (pesquisa oral): Envolve contato direto entre o entrevistador e o
     entrevistado, permitindo maior flexibilidade, esclarecimento de dúvidas e
     a coleta de informações mais ricas e detalhadas (entrevistas estruturadas,
     semiestruturadas ou não estruturadas).
 
Além dos tipos tradicionais, pesquisadores recorrem a tipos
menos convencionais de pesquisas. O exemplo do método da "escrita
perdida" (lost letter technique) desenvolvido por Stanley Milgram,
Leon Mann e Stephen Harter para estudar as atitudes dos eleitores
é notável. Eles "perderam" cartas prontas para serem enviadas em
diferentes bairros da cidade, endereçadas a várias organizações políticas. Com
base na velocidade de recebimento dessas cartas na caixa de correio assinada,
os cientistas tiraram conclusões sobre a popularidade das organizações
políticas entre a população. Este é um exemplo criativo de pesquisa empírica
que tenta contornar os vieses de autorrelato.
A eficácia da pesquisa aplicada na ciência política depende
fundamentalmente de um planejamento meticuloso. O processo de preparação do
estudo inclui o desenvolvimento adequado do programa e do plano de pesquisa.
4.1. O Programa de Pesquisa
O programa de pesquisa é a apresentação e
justificativa dos fundamentos teóricos e metodológicos do trabalho planejado e
dos métodos de sua organização. Ele serve como um roteiro detalhado para
todo o processo de investigação. O programa, via de regra, é composto por duas
partes:
a) Seção Metodológica:
A seção metodológica estabelece as bases conceituais e
lógicas do estudo:
- Formulação
     do problema de pesquisa: Compreender uma situação contraditória que
     afeta os interesses das pessoas, mas que é pouco estudada. Podem ser
     problemas epistemológicos (falta de conhecimento sobre fenômenos)
     ou objetivos (contradições ou conflitos entre grupos,
     instituições). O problema científico é formado na encruzilhada de uma situação problema real e a visão do pesquisador.
 - Definição
     do objeto de pesquisa: O portador da situação problema, que é o foco
     principal do estudo (ex: sistema político brasileiro, comportamento
     eleitoral).
 - Definição
     do assunto de pesquisa: Certas propriedades, aspectos e traços
     característicos do objeto de pesquisa que serão investigados (ex: o
     impacto da polarização no comportamento eleitoral).
 - Definição
     do propósito do estudo: Qual resultado, teórico cognitivo (gerar
     conhecimento) ou prático aplicado (resolver um problema), o pesquisador
     busca obter.
 - Escolha
     das variáveis: Características fatoriais variáveis do objeto de
     estudo.
 - Variáveis
      independentes: Causas de fenômenos ou mudanças (ex: nível de
      desenvolvimento econômico).
 - Variáveis
      dependentes: Consequências condicionadas por causas externas (ex:
      tipo de regime político). A identificação de variáveis é crucial para a
      criação de um modelo multidimensional e a identificação de inter-relações
      estáveis.
 - Interpretação
     e operacionalização dos conceitos principais: Definir conceitos
     abstratos em termos concretos e mensuráveis. Por exemplo,
     "Estado" ou "partido" são mais fáceis de interpretar,
     enquanto "cultura política" ou "regime político"
     exigem maior esforço para serem operacionalizados em indicadores empíricos
     verificáveis. A operacionalização é o esclarecimento de conceitos
     concretizadores e sua correlação com dados empiricamente verificáveis.
 - Desenvolvimento
     de hipóteses de trabalho: Pressupostos sobre um conjunto de unidades
     de pesquisa ou sobre a estrutura de objetos sociais que serão testados
     empiricamente. (Mais detalhes sobre hipóteses e teorias serão dados na
     seção 2.7).
 
b) Seção Processual:
A seção processual detalha como a pesquisa será conduzida:
- Plano
     estratégico de pesquisa: A arquitetura geral da investigação.
 - Definição
     da população pesquisada: Quem ou o que será estudado (ex: todos os
     eleitores de um país, todos os documentos de um arquivo).
 - Metodologia
     de coleta e análise de informações: As técnicas específicas a serem
     usadas (pesquisas, análise de conteúdo, entrevistas, etc.) e como os dados
     serão processados.
 
4.2. Tipos de Planos de Pesquisa
A seção metodológica do programa contém um plano de pesquisa
que, dependendo das metas e objetivos do estudo, pode assumir diferentes
formas:
- Plano
     de Reconhecimento (ou Formulativo): Objetivo é formular problemas e
     apresentar hipóteses de trabalho. É usado quando o objeto de pesquisa é
     pouco estudado e há pouca informação sobre ele. Envolve consultas a
     especialistas, busca de fontes de dados adicionais e métodos
     exploratórios.
 - Plano
     Descritivo: Visa o desenvolvimento detalhado de métodos qualitativos e
     quantitativos pelos quais as características e parâmetros do objeto podem
     ser estabelecidos. Inclui certas hipóteses e atividades para a coleta de
     informações primárias (por exemplo, pesquisas de opinião pública sobre um
     determinado assunto).
 - Plano
     Analítico e Experimental: Serve ao propósito de determinar as conexões
     em objetos sociais e a natureza da dependência entre várias
     características. A utilização deste tipo de plano baseia-se em
     hipóteses-fundamentos cuidadosamente verificadas e, por vezes, envolve a
     manipulação de variáveis.
 - Plano
     Organizacional: De natureza geral, visa uma descrição detalhada do
     procedimento de pesquisa. Inclui o desenvolvimento de instrumentos de
     pesquisa (questionários, roteiros de entrevista), a formação de equipes
     para a coleta de informações primárias, a determinação do local e horário
     do estudo, a população amostral, medidas para a preparação técnica
     (reprodução de materiais, informações aos entrevistados), ajuste de
     hipóteses e métodos após um estudo-piloto, preparação de software para
     processamento de informações, medidas de processamento informatizado dos
     resultados, e a generalização e análise dos dados obtidos.
 
A Tabela 2.1 ilustra como diferentes tipos de pesquisa são
combinados com o número de variáveis e unidades de pesquisa:
| 
    Número de Variáveis  | 
   
    Número de Unidades  | 
   
    Tipo de Pesquisa  | 
  
| 
   Poucas  | 
  
   Muitas  | 
  
   Censos, Referendos, Estudos Transnacionais  | 
 
| 
   Muitas  | 
  
   Poucas  | 
  
   Estudos de Caso, Levantamentos Monográficos  | 
 
Essa tabela ressalta a escolha estratégica de métodos:
quando se tem muitas variáveis, mas poucos casos (como em estudos de caso), a
profundidade é priorizada. Quando se tem poucas variáveis, mas muitos casos
(como em censos), a generalização é o foco.
Após a realização da pesquisa empírica e a conclusão da
coleta e processamento dos dados, inicia-se a etapa crucial de generalização
dos resultados obtidos. Existem dois grupos principais de formas de
analisar e resumir os resultados: quantitativo e qualitativo.
5.1. Métodos Quantitativos de Análise e Generalização de
Dados
Os métodos quantitativos de análise e generalização de dados
visam a transformar dados brutos em insights compreensíveis através de
ferramentas estatísticas e matemáticas, excluindo a subjetividade. Eles
incluem:
- Classificação
     ou Agrupamento: É a ordenação dos dados de acordo com uma única
     característica estatística. A escolha da característica para classificação
     é feita de acordo com os objetivos do estudo e as hipóteses formuladas. Os
     agrupamentos podem ser baseados na repartição de grupos nominais (por
     sexo, nível de qualificação, nacionalidade) ou por alguma característica
     quantitativa crescente ou decrescente (ex: por nível de renda).
 - Compilação
     de Tabelas, Construção de Gráficos e Diagramas: Fornecem a melhor
     maneira de ilustrar visualmente os resultados da pesquisa, tornando os
     dados complexos mais acessíveis e claros.
 - Coeficiente
     de Correlação: Permite identificar e quantificar a relação entre
     duas variáveis. Pode mostrar o grau de identidade das características
     de grupos comparados (por exemplo, valores ou renda), bem como o grau de
     inter-relação entre as duas características de um objeto social (por
     exemplo, a dependência de orientações políticas específicas do valor da
     renda total).
 - Com
      o aumento simultâneo das variáveis, a correlação é positiva.
 - Quando
      o aumento de uma variável está associado à diminuição da outra, a
      correlação é negativa.
 - Os
      extremos do coeficiente de correlação são +1 (correlação positiva
      perfeita, identidade) e -1 (correlação inversa completa, onde o
      valor de uma característica é máximo quando a outra é mínima). Um
      coeficiente próximo de zero indica pouca ou nenhuma correlação linear.
 - Análise
     de Regressão: Permite revelar a natureza da relação entre as variáveis
     de forma mais profunda, a partir da qual é possível estabelecer a natureza
     e a forma da dependência do atributo efetivo (variável dependente) em
     relação aos explicativos (variáveis independentes). É uma ferramenta
     poderosa para inferir causalidade (embora correlação não seja causalidade)
     e fazer previsões.
 - Análise
     Fatorial: Facilita a determinação do grau de interconexão entre
     variáveis diretamente não observáveis (fatores latentes) e
     características empiricamente observáveis (variáveis manifestas). Por
     exemplo, em uma pesquisa, várias perguntas sobre "confiança nas
     instituições" podem ser combinadas para medir um fator latente de
     "confiança política".
 
Os métodos quantitativos de análise e generalização de dados
permitem obter dados suficientemente precisos e objetivos, para excluir a
subjetividade e a parcialidade do processo de pesquisa. Portanto, sua
importância na ciência política não pode ser superestimada, especialmente para
a construção de generalizações empíricas e o teste de hipóteses causais.
5.2. Métodos Qualitativos de Análise e Generalização de
Dados
Nos últimos anos, os cientistas começaram a prestar mais
atenção aos métodos qualitativos de análise, uma vez que estes permitem
uma penetração mais profunda na essência dos fenômenos em estudo, revelar as
relações sociais, mostrar a dependência de algumas variáveis em relação a
outras e apresentar o mundo social não em uma dimensão unidimensional, mas
multidimensional. Eles são cruciais para compreender o "porquê" e
o "como" dos fenômenos, as motivações, os significados e os processos
sociais.
Os métodos qualitativos de análise e generalização de dados
incluem:
- Criação
     de Tipologias (Tipologização): É um método de agrupamento de
     objetos de acordo com características empiricamente ou logicamente
     selecionadas ou suas combinações. A importância desse método de
     análise teórica reside na ordenação e sistematização dos dados da
     pesquisa, propriedades estudadas e características dos objetos sociais.
     Permite vincular a pesquisa empírica com sua explicação teórica. As
     tipologias são criadas em função das questões levantadas pelo investigador
     e são moldadas pela imaginação do cientista, o que explica a multiplicidade
     de tipos para um mesmo assunto.
 - Requisitos
      para a Construção de Tipologias:
 - A
       tipologia deve ser criada com base em conceitos, e não apenas em
       fatos empíricos brutos.
 - A
       tipologia deve ser criada com base em variáveis que tenham
       significado cognitivo e relevância para o problema de pesquisa.
 - Os
       objetos em estudo devem ser descritos por um conceito claro.
 - A
       tipologia deve ser explicativa, ou seja, capaz de iluminar as
       causas ou consequências dos fenômenos.
 - A
       tipologia deve combinar características de ordem empírica e lógica,
       conectando o observável com o conceitual.
 - Modelagem
     (Qualitativa): Embora a modelagem também possa ser quantitativa, no
     contexto qualitativo, refere-se à criação de representações simplificadas
     da realidade para entender interconexões complexas, processos e fluxos.
     Isso inclui modelos conceituais, diagramas de fluxo, mapas cognitivos de
     atores políticos, etc.
 - Criação
     e Desenvolvimento de Teorias (Grounded Theory): Envolve a construção
     de teorias diretamente a partir dos dados qualitativos, através de um
     processo iterativo de coleta, codificação e análise, permitindo que as
     categorias e conceitos emerjam da própria pesquisa, em vez de serem
     impostos a priori.
 - Previsão
     Política (Qualitativa): Embora haja previsões baseadas em modelos
     quantitativos, a previsão qualitativa envolve a análise de cenários, o uso
     de expertise e a identificação de tendências emergentes para antecipar
     desenvolvimentos políticos.
 
A combinação de métodos quantitativos e qualitativos
(abordagem de métodos mistos) é cada vez mais valorizada na ciência
política, pois permite que os pesquisadores aproveitem os pontos fortes de
ambos os enfoques para uma compreensão mais completa e robusta dos fenômenos
políticos.
Aprofundando no método comparativo, que já mencionamos como
um dos métodos teóricos, sua metodologia é central para a Ciência Política
Comparada. O método comparativo envolve o estudo de semelhanças e diferenças
entre fenômenos ou suas classes para identificar padrões, causas e
consequências. A primeira sistematização do método comparativo para as ciências
sociais foi desenvolvida por John Stuart Mill (1806-1873) em sua obra A
System of Logic, através de seus "Cânones de Mill".
Os Cânones de Mill, adaptados para a ciência política, são
ferramentas lógicas para a inferência causal através da comparação de casos:
- Método
     de Acordo (Método da Concordância): Se em dois ou mais casos de um
     fenômeno sob investigação, uma circunstância em particular é comum a todos
     eles, essa circunstância é a provável causa (ou efeito) do fenômeno.
 - Exemplo:
 - Caso
       Empírico 1: País X (democracia estável), Características: A (sociedade
       civil forte), B, C
 - Caso
       Empírico 2: País Y (democracia estável), Características: A (sociedade
       civil forte), D, E
 - Caso
       Empí 3: País Z (democracia estável), Características: A (sociedade civil
       forte), F, G
 - Conclusão:
      A é a única característica comum onde X (democracia estável) é o
      resultado. Portanto, A (sociedade civil forte) pode ser a causa de X.
 - Este
      método busca casos que são diferentes em muitos aspectos, mas semelhantes
      no resultado e em uma única causa potencial comum.
 - Método
     da Diferença (Método da Variação Concomitante para poucos casos): Se
     em dois casos um fenômeno ocorre quando uma certa circunstância está
     presente, e não ocorre quando essa circunstância é removida, mantendo
     todas as outras circunstâncias iguais, então essa circunstância é a causa
     (ou parte da causa) do fenômeno.
 - Exemplo:
 - Caso
       Empírico 1: País X (reforma econômica bem-sucedida), Características: A
       (apoio político), B, C
 - Caso
       Empírico 2: País Y (reforma econômica não-sucedida), Características: ¬A
       (falta de apoio político), B, C
 - Conclusão:
      A é a diferença encontrada entre dois casos idênticos em que X (reforma
      bem-sucedida) ocorre ou não. Portanto, A (apoio político) pode ser a
      causa de X.
 - Este
      método busca casos que são semelhantes em muitos aspectos, mas diferem em
      uma única causa potencial e no resultado.
 - Método
     de Variações Concomitantes (para muitos casos): Se um fenômeno varia
     de alguma maneira particular, e uma circunstância com a qual ele está
     conectado varia da mesma maneira, então essa circunstância é a causa (ou
     parte da causa) do fenômeno.
 - Exemplo:
 - O
       valor de A (índice de polarização política) muda.
 - A
       magnitude de X (índice de instabilidade governamental) muda com a
       magnitude de A.
 - Conclusão:
      A (polarização) pode ser a causa de X (instabilidade).
 - Este
      método é mais aplicável a grandes "N" (grande número de casos)
      e é a base para a análise correlacional e regressão em estudos
      quantitativos.
 
6.1. Tipos de Explicações em Estudos Comparativos
(Segundo S. Huntington)
Samuel P. Huntington identificou vários tipos de
explicações que podem ser buscadas em estudos comparativos, mostrando a
complexidade das relações causais na política:
- Tipo
     1: Causa Única (Causa e Efeito Semelhantes): Uma certa causa (L), que
     surgiu em vários países, pode iniciar consequências semelhantes neles.
 - Lógica:
      O mesmo fenômeno pode ser a causa de consequências semelhantes em vários
      sistemas políticos.
 - Exemplo
      (Fig. 2.2, a): A existência de forte tradição autoritária (L) em
      diversos países levou ao surgimento de regimes populistas (X) neles.
 - Tipo
     2: Causas Semelhantes em Condições Semelhantes (Causas Contextuais):
     Causas semelhantes em condições semelhantes (contextos) causam
     consequências semelhantes em casos diferentes. Aqui, o contexto é crucial.
 - Lógica:
      Não apenas a causa, mas o ambiente em que ela opera é determinante.
 - Exemplo
      (Fig. 2.2, b): A introdução de reformas econômicas neoliberais (causa
      semelhante) em países com instituições democráticas consolidadas
      (condições semelhantes) levou a resultados de estabilidade econômica
      (consequências semelhantes).
 - Tipo
     3: Eventos em um Sistema Podem Iniciar Consequências Semelhantes em Outros
     (Difusão/Contágio): Eventos em um sistema político podem iniciar
     consequências semelhantes em outros. Isso se refere a fenômenos de
     difusão, contágio ou aprendizado político.
 - Lógica:
      Um evento em um local pode ter um efeito de cascata ou mimetismo em
      outros.
 - Exemplo
      (Fig. 2.2, c): A queda de um regime autoritário na Europa Oriental
      (evento em um sistema) pode ter inspirado e acelerado movimentos
      democratizadores em outros países da região (consequências semelhantes em
      outros sistemas).
 
Esses tipos de explicação de Huntington destacam que a
causalidade política raramente é linear ou simples, muitas vezes envolvendo
múltiplos fatores, condições contextuais e interdependências.
Para que a pesquisa política seja claramente organizada e
cientificamente rigorosa, é fundamental apresentar hipóteses de trabalho.
7.1. Hipóteses
Hipóteses são pressupostos sobre um determinado
conjunto de unidades de pesquisa ou sobre a estrutura de objetos sociais, que
são confirmados ou refutados no decorrer da pesquisa. O papel de uma
hipótese é ordenar conceitualmente os objetos em estudo, fornecendo uma
direção e um foco para a investigação. Portanto, sem o seu desenvolvimento, é
impossível realizar pesquisas científicas sérias. Ao desenvolver um programa de
pesquisa, via de regra, várias hipóteses são formuladas para guiar a coleta e a
análise dos dados empíricos.
Para que uma hipótese "funcione" e seja útil para
a pesquisa, ela deve atender a certos requisitos:
- Ser
     determinística: Associada ao maior número possível de observações e
     indicadores empíricos, permitindo sua testabilidade.
 - Respeitar
     o princípio da falseabilidade: Ou seja, ser logicamente verificável
     e correlacionada com hipóteses alternativas. Isso significa que deve
     ser possível, em princípio, encontrar evidências que a refutem. Uma
     hipótese que não pode ser falseada (refutada) por dados empíricos não é
     uma hipótese científica válida (princípio de Karl Popper).
 - Ser
     verificável (testável): Deve ser possível estabelecer as áreas de sua
     verdade, falsidade e neutralidade através de dados empíricos. Os conceitos
     usados na hipótese devem ser empiricamente verificáveis, ou seja,
     operacionalizáveis.
 - Ter
     caráter comunicativo: Estar conectada com outras hipóteses e
     corresponder em conteúdo, aparato conceitual e ferramentas à área
     disciplinar em que é criada, facilitando o diálogo e a acumulação de
     conhecimento.
 - Ser
     coerente: Suas disposições não devem contradizer-se entre si, bem como
     os fatos científicos previamente verificados e confirmados. A lógica
     interna da hipótese deve ser sólida.
 - Ser
     limitada: Deve minimizar tolerâncias e restrições excessivas, sendo
     precisa e específica o suficiente para ser testável.
 
7.2. Teorias
As hipóteses são os degraus que levam à construção de teorias.
Como mencionado, a teoria (do grego theoria, "visão",
"contemplação") é a forma mais elevada de conhecimento. Na
ciência política, uma teoria é um conjunto de proposições inter-relacionadas
que busca explicar um fenômeno político de forma sistemática, coerente e com
poder de generalização. Ela vai além da descrição de fatos, buscando explicar
"porquê" e "como" os eventos políticos ocorrem.
As teorias cumprem várias funções cruciais:
- Organização
     e Sistematização: As teorias organizam o conhecimento disperso em um
     corpo coerente.
 - Explicação:
     Fornecem explicações para os fenômenos políticos, identificando relações
     causais e lógicas.
 - Previsão:
     Permitem a formulação de previsões sobre eventos futuros ou sobre o
     comportamento de atores em certas condições.
 - Orientação
     para Pesquisa: Sugerem novas questões e áreas para investigação
     empírica, guiando a formulação de novas hipóteses.
 - Heurística:
     Estimulam o pensamento e a descoberta de novas conexões.
 
As teorias políticas podem variar em seu nível de abstração,
de microteorias focadas em comportamentos individuais a microteorias que
explicam grandes sistemas ou processos históricos. A construção e o refinamento
de teorias são o objetivo final da pesquisa científica em política, pois são
elas que nos permitem compreender e, potencialmente, moldar o mundo político de
forma mais eficaz.
A ciência política, em sua jornada para compreender as
complexidades do poder, da governança e da interação humana, desenvolveu e
aperfeiçoou uma rica tapeçaria de métodos. Desde os métodos lógicos gerais
que formam a espinha dorsal do pensamento científico (abstração, análise,
síntese, indução, dedução, analogia, modelagem, classificação e idealização),
passando pelos métodos teóricos que constroem arcabouços explicativos
(sistemas, estrutural-funcionalismo, comunicação, comparação), até os métodos
empíricos que coletam e analisam dados do mundo real (observação, análise
documental, avaliação de especialistas, surveys), a disciplina se equipou para
uma investigação rigorosa.
A distinção entre o "o que é" (fatos) e o "o
que deveria ser" (valores) é uma tensão constante, mas a ciência política
moderna reconhece a natureza axiológica inerente à sua área, buscando
integrar valores na estrutura da pesquisa para maior relevância. A preparação
meticulosa da investigação, através de um programa e plano de pesquisa
bem definidos, é crucial para a obtenção de resultados válidos, sejam eles para
o avanço do conhecimento teórico ou para a aplicação prática.
Finalmente, a generalização dos resultados, seja
através de métodos quantitativos que buscam padrões e correlações estatísticas,
ou de métodos qualitativos que aprofundam a compreensão de significados e
processos, é o passo final para transformar dados em conhecimento
significativo. A formulação de hipóteses testáveis e a construção de teorias
robustas são o coroamento desse processo, permitindo que a ciência política
não apenas descreva o mundo, mas o explique e, em última instância, forneça
insights para sua melhoria.
A dinâmica contínua entre teoria e empiria, a capacidade de
integrar diferentes abordagens e a constante busca por refino metodológico são
o que tornam a ciência política uma disciplina vibrante e essencial para a
compreensão dos desafios e oportunidades de um mundo em constante mudança. Ao
dominar esses métodos, os cientistas políticos estão mais aptos a desvendar a
verdade objetiva subjacente aos fenômenos políticos, contribuindo para uma
cidadania mais informada e uma governança mais eficaz.

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