A polinização é um processo essencial para a reprodução das
plantas com flores. Envolve a transferência de grãos de pólen entre as partes
masculinas e femininas da flor, permitindo a formação de frutos e sementes.
Esse processo pode ocorrer por meio do vento, da água, ou, predominantemente,
por animais. Nas regiões tropicais — como o Brasil —, 94% das plantas dependem
da polinização animal (Ollerton et al., 2011).
Entre os principais agentes polinizadores, destacam-se os
insetos, especialmente as abelhas, que sozinhas respondem por mais de 90% dos
107 principais cultivos agrícolas estudados globalmente (Klein et al., 2007).
Outras espécies também são fundamentais, como borboletas, mariposas, vespas,
besouros, moscas-das-flores e tripes. Há ainda vertebrados polinizadores, como
aves, morcegos e até mamíferos terrestres e lagartos.
No Brasil, onde a diversidade de flora é uma das maiores do
planeta, a contribuição desses agentes é insubstituível. As florestas
tropicais, campos e cerrados dependem desses pequenos trabalhadores silenciosos
para se regenerarem e manterem sua complexa teia de vida.
Quantos polinizadores selvagens existem no Brasil?
Segundo dados consolidados do banco de dados do Sistema
de Informação sobre a Biodiversidade Brasileira (SiBBr) e do Catálogo
Taxonômico da Fauna do Brasil, há mais de 2.000 espécies de abelhas
nativas descritas no país. Considerando os outros grupos — borboletas,
mariposas, vespas, besouros, moscas e demais insetos com potencial polinizador
—, esse número sobe para dezenas de milhares de espécies.
Estima-se que apenas de abelhas silvestres o Brasil abriga
aproximadamente 15% da diversidade mundial. No entanto, muitos
especialistas concordam que essa riqueza ainda está subestimada devido à falta
de inventários completos em regiões menos estudadas, como a Amazônia e partes
do Cerrado e da Caatinga.
Sinais de alerta: o declínio dos polinizadores no Brasil
Infelizmente, essa riqueza está ameaçada. Nos últimos 40
anos, estudos vêm apontando um declínio alarmante das populações de
polinizadores no Brasil e no mundo. Embora ainda não haja um indicador oficial
unificado nacionalmente, diversos trabalhos científicos vêm sendo usados como
base para estimar essa perda.
Entre os principais indicadores de declínio estão:
- Redução
do número de espécies registradas por região ao longo do tempo;
- Queda
na abundância de abelhas em áreas agrícolas;
- Desaparecimento
local de espécies em ecossistemas fragmentados;
- Redução
na frequência de visitas florais observadas em campo;
- Aumento
de colapsos de colônias de abelhas melíferas (Apis mellifera).
O relatório da IPBES (2016), plataforma global sobre
biodiversidade e serviços ecossistêmicos, aponta que cerca de 40% das
espécies de polinizadores invertebrados, especialmente abelhas e
borboletas, enfrentam risco de extinção. No Brasil, pesquisadores como Giannini
et al. (2015) e Freitas & Imperatriz-Fonseca (2005) já vinham alertando
para esses mesmos riscos, inclusive com repercussões diretas na produtividade
agrícola.
Causas do desaparecimento dos polinizadores
Diversos fatores contribuem para o declínio das populações
de polinizadores, sendo os principais:
- Uso
indiscriminado de agrotóxicos, especialmente os neonicotinóides,
letais para abelhas e outros insetos;
- Perda
e fragmentação de habitats naturais, reduzindo a oferta de flores e
locais de nidificação;
- Mudanças
climáticas, alterando a fenologia das plantas e afetando a sincronia
entre flores e polinizadores;
- Espécies
exóticas invasoras, como abelhas africanas, que competem com espécies
nativas;
- Doenças
e parasitas, como o ácaro Varroa destructor, que ataca colônias de
abelhas.
O desmatamento na Amazônia, a expansão da monocultura e o
avanço da fronteira agrícola em áreas como o Cerrado são exemplos concretos das
pressões que afetam os polinizadores selvagens.
A polinização como serviço ecossistêmico
A polinização é considerada um serviço ecossistêmico
essencial, classificado como regulatório, de provisão e cultural. Entre os
benefícios diretos à humanidade, destacam-se:
- A produção
de alimentos de maior qualidade e quantidade;
- A manutenção
da variabilidade genética das plantas;
- O
fornecimento de produtos como mel, própolis e cera;
- A
valorização dos saberes tradicionais associados à criação de abelhas
nativas.
Estudos apontam que 70% das plantas cultivadas nos trópicos
produzem mais e melhor quando polinizadas adequadamente. Isso afeta diretamente
nossa dieta: alimentos dependentes de polinizadores são ricos em vitaminas
A, C, cálcio, ferro e ácido fólico, elementos fundamentais para a nutrição
humana.
Impactos econômicos do declínio dos polinizadores
A polinização animal movimenta cifras bilionárias no mundo.
A primeira avaliação econômica global (Costanza et al., 1997) estimou o valor
anual desse serviço em US$ 70 bilhões. Em 2009, Gallai et al. revisaram esse
valor para € 153 bilhões. Já o relatório da IPBES (2016) atualizou os números
para um intervalo entre US$ 235 e US$ 577 bilhões por ano.
No Brasil, estima-se que a contribuição dos polinizadores à
produção agrícola seja de US$ 12 bilhões anuais (Giannini et al.,
2015b). Perder esses agentes significaria não apenas um colapso ecológico, mas
também um choque na segurança alimentar e econômica do país.
Iniciativas e caminhos para a conservação
A boa notícia é que há soluções viáveis. Várias frentes de
ação já estão em curso ou podem ser reforçadas, como:
- Incentivar
a agroecologia e a produção orgânica, que são mais amigáveis aos
polinizadores;
- Criar
e manter corredores ecológicos que conectem áreas naturais e
agrícolas;
- Implantar
políticas públicas de conservação de polinizadores, como programas de
monitoramento e incentivos à meliponicultura (criação de abelhas sem
ferrão);
- Educação
ambiental voltada para a importância dos polinizadores desde o ensino
básico;
- Banimento
progressivo de agrotóxicos perigosos, com substituição por práticas
sustentáveis;
- Estímulo
à pesquisa científica sobre biologia, ecologia e conservação dos
polinizadores nativos.
O Brasil, por sua vasta biodiversidade, tem um papel
fundamental na proteção dos polinizadores selvagens. Preservar esses pequenos
agentes é preservar a base da vida — a floresta, a agricultura, a
segurança alimentar e o futuro das próximas gerações.
Proteger os polinizadores não é apenas uma tarefa de
pesquisadores ou ambientalistas. É um dever coletivo que envolve
produtores, governos, consumidores e cidadãos conscientes. O futuro da
biodiversidade brasileira — e do nosso prato de comida — depende das asas que
carregam pólen.
FRANK BARROSO
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Referências:
Costanza R, de Groot R, Braat L, et al. (2017) Twenty
years of ecosystem services: How far have we come and how far do we still need
to go? Ecosyst Serv 28:1–16. doi: 10.1016/j.ecoser.2017.09.008.
Gallai N, Vaissière BE (2009) Guidelines for the economic
valuation of pollination services at a national scale. FAO, Rome.
Giannini TC, Cordeiro GD, Freitas BM, et al. (2015b)
The dependence of crops for pollinators and the economic value of pollination
in Brazil. J Econ Entomol 108:849–857. doi: 10.1093/jee/ tov093
Klein A-M, Vaissiere BE, Cane JH, et al. (2007)
Importance of pollinators in changing landscapes for world crops. Proc R Soc B
Biol Sci 274:303–313. doi: 10.1098/rspb.2006.3721.
Ollerton J, Winfree R, Tarrant S (2011) How many flowering
plants are pollinated by animals? Oikos 120:321–326. doi: 10.1111/j.
1600-0706.2010.18644.x.
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