Sou palavra antes do som,
sou o silêncio que quer nascer.
Não fui eu quem fiz o poema,
foi ele que me quis dizer.
Escorri na folha em branco,
sem saber se era rima ou pranto.
Fui verbo em carne sem sujeito,
fui canção no avesso do canto.
O poema me sonha antes
de eu sonhar com ele.
Sou o eco que ele espalha
quando me escreve na pele.
Há um poeta dentro do poema,
e outro fora, em suspensão.
Mas quem sente o que sente primeiro:
a alma ou a intenção?
Cada verso que rabisco
me rasga mais do que revela.
A palavra é casa sem teto,
e a metáfora, janela.
Não escrevo por escolha,
sou escolhido a cada linha.
A linguagem me possui —
sou dela, e não minha.
O texto me fita calado,
pergunta quem é que escreve quem.
Talvez sejamos apenas espelhos
num jogo de ir e vir além.
Porque a poesia não é feita
de letras, nem de razão:
é a ausência que pulsa no peito,
é o som que vive na mão.
No fim, não há fim — só busca:
do sentido que escapa, da luz que some.
E eu, apenas o poeta,
tentando decifrar meu nome.
FRANK BARROSO
Escrito em 21.06.2025
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