Sobre os terminais em excesso no sistema integrado de transporte de Uberlândia

 

Terminal Novo Mundo aumentou o tempo de viagem para os usuários

O SIT de Uberlândia, como muitos sistemas integrados, busca otimizar a distribuição do fluxo de passageiros e veículos. A ideia central é concentrar as linhas em terminais, permitindo que os ônibus alimentadores coletem passageiros nos bairros e os direcionem aos terminais, de onde linhas troncais (ou outras alimentadoras) seguem para diferentes destinos. Isso, em teoria, reduz a necessidade de que todas as linhas passem por todas as vias principais, diluindo o tráfego em outras áreas da cidade.

No entanto, a eficácia desse modelo depende crucialmente do planejamento das linhas e das conexões nos terminais. A existência de um grande número de terminais não é, por si só, um problema. O problema surge quando as conexões entre os terminais não são eficientes, levando a transbordos excessivos e aumento do tempo de viagem, como vamos mostrar.

1.    Aumento do tempo de viagem:

 

Os exemplos que você citou são preocupantes:

·         Morumbi - Terminal Central: A duplicação do tempo de viagem de 20 para 40 minutos após a implantação do Terminal Novo Mundo indica uma falha na otimização das linhas. A linha expressa anterior pode ter sido mais eficiente para esse trajeto específico.

 

·         Jardim Celi - Maravilha: Gastar 90 minutos para percorrer 12,5 km, com 3 transbordos, é inaceitável. Isso demonstra uma ineficiência gritante no sistema, tornando o transporte público pouco competitivo em relação ao carro. 

Esses casos sugerem que a reestruturação das linhas, possivelmente motivada pela implantação dos terminais, não considerou adequadamente os padrões de deslocamento existentes e as necessidades dos usuários.

2.    Distâncias entre terminais:

 

As distâncias entre os terminais, que você listou, não são excessivamente longas individualmente. No entanto, o problema não é a distância entre os terminais, mas sim a necessidade de passar por vários deles para realizar um único trajeto. Mesmo que cada trecho entre terminais seja relativamente curto, acumular vários desses trechos em uma única viagem torna o sistema ineficiente.

 

3.    Benefício para empresas de ônibus e uso do carro:

 

Sua preocupação sobre um possível favorecimento do uso do carro é válida. Um sistema de transporte público ineficiente, com transbordos demorados e viagens longas, pode, de fato, incentivar as pessoas a optarem pelo carro, mesmo que essa não seja a intenção declarada da política pública.

A alegação de que os terminais beneficiam as empresas de ônibus (aumentando o fluxo de veículos) precisa ser analisada com cuidado. É possível que, em alguns casos, o sistema integrado aumente o número total de viagens de ônibus, mas o objetivo principal deveria ser a eficiência do sistema, não o volume de ônibus. Se o sistema é ineficiente para o usuário, o aumento do volume de ônibus é contraproducente.

5. Análise Técnica e Recomendações:

Uma análise técnica aprofundada do SIT de Uberlândia é necessária para determinar se a quantidade e a localização dos terminais são realmente otimizadas. Essa análise deve incluir:

·         Estudo Detalhado da Matriz Origem-Destino: Para entender os padrões de deslocamento dos passageiros e identificar os trajetos mais comuns.

·         Avaliação da Eficiência das Linhas: Analisar o tempo de viagem, a frequência e a ocupação das linhas existentes, identificando gargalos e oportunidades de melhoria.

·         Simulação de Diferentes Cenários: Testar diferentes configurações de linhas e terminais para determinar a opção que minimiza o tempo de viagem e o número de transbordos para a maioria dos usuários.

·         Consulta Pública: Coletar o feedback dos usuários sobre o sistema atual e suas necessidades.

Com base nessa análise, podem ser feitas recomendações para:

·         Reestruturação das Linhas: Criar linhas mais diretas e eficientes, reduzindo a necessidade de transbordos.

·         Otimização dos Horários de Conexão: Garantir que os ônibus cheguem e partam dos terminais em horários que facilitem a transferência de passageiros, minimizando o tempo de espera.

·         Revisão da Localização de Terminais: Se a análise indicar que alguns terminais não são estrategicamente localizados, considerar sua realocação ou mesmo desativação.

·         Investimento em Tecnologia: Implementar sistemas de informação ao usuário em tempo real (aplicativos, painéis informativos nos terminais) para facilitar o planejamento das viagens e reduzir a incerteza.

 

O Sistema Integrado de Transporte de Uberlândia tem potencial para melhorar a mobilidade urbana, mas, pelos exemplos citados, mostram que a implementação atual apresenta falhas significativas. A prioridade deve ser a eficiência do sistema para o usuário, e não para as empresas de ônibus ou para o uso do carro. Uma análise técnica rigorosa, seguida de uma reestruturação das linhas e, possivelmente, uma revisão da localização dos terminais, é fundamental para garantir que o SIT cumpra seu propósito de oferecer um transporte público rápido, eficiente e acessível para todos.

 

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