Romance temporal na Ilha do Cardoso.
Há lembranças que não passam — ficam ancoradas
em nós, como barcos silenciosos que balançam ao sabor da saudade. E algumas
delas surgem com o brilho quente de uma tarde litorânea, com o som do mar como
trilha e o coração como bússola. Foi assim que me lembrei de uma das namoradas
mais magníficas que já conheci, na Ilha do Cardoso, em São Paulo, tão
perto e tão distante da cidade de Cananéia.
Eu corria pela areia como quem busca mais do
que ar: buscava sentido, buscava presença. O céu ardia sobre nós,
incendiando-se de cores ao entardecer. E quando uma estrela se acendia no céu,
outra se acendia dentro do peito. Era como se o universo quisesse registrar
aquele instante — um momento em que tudo fazia sentido, mesmo sem nenhuma
explicação.
A lua passeava lenta, alheia e cúmplice, e a
vida parecia fluir dentro de uma canção. Ali, naquele pedaço de paraíso, eu
imaginava você. Era sempre ali que começavam meus sonhos, como ondas que
vinham e voltavam, insistindo em tocar os pés da memória. Me via beijando você.
Mesmo que fosse só uma lembrança, mesmo que fosse de brincadeira, o coração
insistia em brincar de verdade.
Tudo em mim era desejo — não carnal, mas
essencial. Vontade de te ver, de te abraçar, de correr pela areia com você.
A Ilha do Cardoso parecia pequena diante da imensidão do que eu sentia. A
paisagem era só um pano de fundo para algo muito maior: o amor que ainda
ecoava dentro de mim.
E então, como num sussurro do vento, me peguei
fazendo da vida uma canção. Uma melodia feita de lembrança, de sorriso roubado,
de toque imaginado. A cada passo na areia, eu sentia que te procurava. E cada
grão tocando minha pele parecia guardar o calor de um abraço que um dia foi
real.
Que vontade de amar você. Simples,
direto, absoluto. É isso que resta quando todas as palavras se calam. O amor
não precisa de justificativa quando é memória viva. Basta lembrar para sentir.
Basta sentir para querer reviver.
A Ilha do Cardoso continua lá. Talvez o tempo
tenha mudado o cenário, as trilhas, os sons. Mas o que ela guarda em mim
permanece intacto: um amor de verão que virou eternidade interna. Um céu
que acende no coração. Uma vontade que nunca se apaga. Um beijo sonhado que
ainda faz sorrir.
E, se um dia eu voltar a correr por aquelas
areias, sei que será você que estarei procurando — mesmo que em silêncio, mesmo
que em segredo, mesmo que só dentro de mim.
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