Existem sentimentos que não se explicam com lógica — eles apenas vivem, atravessam a alma e se manifestam em gestos, memórias e, às vezes, em silêncio. "Penso em você" não é apenas uma afirmação, mas um estado de espírito constante para quem guarda alguém no coração, mesmo quando a distância ou o tempo insistem em separar.
Penso no seu jeito de falar. É como se cada
palavra sua ainda ecoasse dentro de mim, suave, leve, cheia de intenções que o
mundo talvez nunca tenha percebido. Sua forma de perguntar, tão espontânea, tão
natural, revelava mais do que curiosidade — era afeto disfarçado de diálogo,
era cuidado em forma de som.
Você sempre foi assim: alguém que acontecia de
forma natural. Nada forçado, nada construído demais. Apenas você — sendo. E
nesse ser, surgia o desejo de partir, de ver a estrada, de desaparecer. Talvez
uma busca interior, talvez uma fuga. Mas eu ficava, tentando entender por que a
beleza em você sempre vinha acompanhada de movimento, de partida.
E então, sigo seus passos. Não por obsessão,
mas por saudade. Tento decifrar em que canto do mundo você resolveu se
esconder. Qual cidade, qual rua, qual esquina guarda agora sua presença. Porque
sua ausência é presença constante em mim.
Quero, sem esforço, lembrar o seu jeito de
calar. Porque até o seu silêncio falava comigo. Você ouvia o mundo com uma
atenção rara — e até as canções, mesmo aquelas que morriam no ar, você escutava
como se fossem eternas. Era como se a música brincasse em volta de você,
fazendo morada entre seus gestos e seu respirar. Tudo em você era melodia
natural.
Seu corpo sereno carregava paz. Uma paz que
acendia em mim a velha mania de cantar. De colocar em palavras o que a alma não
sabia conter. Era o coração buscando se expressar, mesmo quando a razão dizia
para calar. Era uma voz interior, viva, querendo reencontrar o som que vinha de
você.
E hoje, essa voz ainda pergunta: onde
andará você?
O tempo passou, o mundo girou, mas dentro de mim há uma razão firme, um motivo
claro: eu não esqueço você.
Porque há sentimentos que não seguem regras.
Há pessoas que, mesmo ausentes, continuam presentes em tudo. No jeito de falar,
de calar, de ouvir, de partir. No silêncio das músicas, na lembrança da
estrada, no canto do coração.
Compositores: Flavio Venturini / Tavinho Moura
0 Comentários