![]() |
Terminal Central de Uberlândia |
Critérios técnicos para implantação de terminais de integração
A construção de um terminal de integração requer um estudo aprofundado e
a consideração de diversos fatores para garantir sua funcionalidade e
sustentabilidade. Os principais critérios técnicos incluem:
- Estudos de Projeção de
Demanda: Essenciais para pré-dimensionamento e localização. É fundamental
estimar o movimento de passageiros (origem, destino, trânsito) para
justificar a construção e classificar o terminal (pequeno, médio ou grande
porte).
- Localização Estratégica: O terminal deve ser posicionado em pontos que maximizem a acessibilidade para os usuários, preferencialmente em áreas de convergência de diversas linhas de ônibus e, se possível, com integração a outros modais de transporte (trens, metrôs, etc.). A qualificação do entorno e a existência de polos de centralidade ou áreas subutilizadas com infraestrutura são importantes.
- Pré-dimensionamento das
Áreas: Inclui a área total do terreno e a destinada às edificações,
considerando a taxa de ocupação da região. São necessárias áreas para:
- Pistas Internas: Com
no mínimo duas pistas para permitir ultrapassagem, largura mínima de 3,50
m, e geometria que acomode raios de giro e circulação de ônibus
articulados (raio de curva externo mínimo de 14m para manobras de 180º).
- Plataformas de Embarque e
Desembarque: Comprimento da baia
relacionado ao tamanho e quantidade de ônibus, altura da plataforma
adequada para acessibilidade (NBR 14022) e espaço livre de obstáculos.
- Áreas de Apoio: Banheiros
públicos e para funcionários (com dimensões mínimas por porte do
terminal), salas para empresas operadoras, posto de controle, bebedouros
e depósito de lixo.
- Acessibilidade Universal: Toda a infraestrutura deve ser adequada para pessoas com mobilidade reduzida, incluindo rampas, elevadores e sinalização adequada.
- Infraestrutura
Complementar: Previsão de by-passes para possibilitar
a saída dos ônibus em caso de bloqueio, aterramento elétrico, e condições
de pavimento que garantam conforto e durabilidade da frota.
- Estudos de Viabilidade
Econômico-Financeira: Estimativa do valor total do
investimento (aquisição da área, projetos, edificações, acessos,
infraestrutura), cálculo estimativo de receitas e despesas de manutenção e
operação, e remuneração do investimento.
- Sintonia com Objetivos
Urbanísticos: O terminal deve estar alinhado com o
plano diretor da cidade, promovendo o desenvolvimento urbano e a
qualificação de áreas.
- Tecnologia: A implementação de sistemas como o iBus (para bilhetagem ou AVL*) pode otimizar a gestão e a experiência do usuário, integrando a tecnologia aos processos operacionais
Critérios para distância entre terminais
A distância entre terminais de integração não é um valor fixo, mas sim
uma decisão estratégica baseada na densidade populacional, na malha viária e na
distribuição da demanda. As diretrizes gerais e melhores práticas sugerem:
- Alcance a Pé:
Recomenda-se que a distância máxima de caminhada até pontos de embarque e
desembarque de passageiros seja de 500 metros
(equivalente a cerca de 5-10 minutos de caminhada).
- Alcance para
Estações/Terminais: Para estações ou terminais de transporte
público coletivo de média e alta capacidade, a distância ideal para acesso
a pé deve ser de até 1 km.
Distâncias maiores que 800 metros já podem desestimular o uso do
transporte público por parte do usuário.
- Distribuição Regional: Em
cidades que justificam múltiplos terminais, a localização deve seguir um
critério de distribuição regional, buscando otimizar a cobertura e a
integração das linhas, garantindo que a oferta de atividades esteja
acessível a todos os habitantes em um tempo razoável de deslocamento,
idealmente em um tempo máximo de 15 minutos utilizando transporte público.
A lógica é que os terminais devem estar próximos o suficiente para que os passageiros possam acessá-los facilmente a pé ou por meio de alimentadores de menor distância, mas distantes o suficiente para que cada terminal atenda a uma área de influência significativa e otimize a distribuição das linhas.
Demanda de passageiros e relação com fluxo de
veículos
A demanda de passageiros é o principal fator para a decisão de construir
um terminal e para o dimensionamento do sistema.
- Estimativa de Demanda: A
necessidade de um terminal é justificada por um movimento
de passageiros, real ou estimado, que demonstre a concentração
de demanda em uma determinada região. Modelagens de demanda são
realizadas, considerando variáveis como população, empregos, número de
matrículas em escolas, renda e a proximidade com centros comerciais ou
outras infraestruturas. Por exemplo, o Terminal Metropolitano de Londrina
tem uma estimativa de 15 mil pessoas diariamente beneficiadas.
- Relação com Fluxo de
Veículos: A demanda de passageiros diretamente
impacta o fluxo de veículos (ônibus) nas
vias que os ônibus circulam. Um terminal é projetado para consolidar e
distribuir esses fluxos.
- Dimensionamento da Frota e
Frequência: A demanda de passageiros
em um trecho crítico da linha determina a frequência de partidas
(ônibus/hora) e, consequentemente, a frota necessária para atender a essa
demanda durante a hora de pico. Quanto maior a demanda, maior a
frequência e o volume de ônibus necessários.
- Ocupação do Veículo: A
capacidade útil de um ônibus (assentos + passageiros em pé) é crucial
para determinar quantos veículos são necessários para transportar a
demanda.
- Fluxo de Ocupação da
Viagem: É a relação entre o fluxo de passageiros da viagem e seu índice
de renovação. Esse parâmetro expressa o fluxo de passageiros medido no
trecho crítico da viagem e é fundamental para o dimensionamento da
oferta.
A construção de um terminal visa justamente centralizar as trocas de passageiros, permitindo que múltiplas linhas alimentadoras cheguem a um ponto, e de lá, linhas troncais (ou outras alimentadoras) sigam para diferentes destinos. Isso pode, paradoxalmente, concentrar um grande volume de ônibus no entorno do terminal, mas o objetivo é reduzir a necessidade de que todas as linhas passem por todas as vias principais da cidade, diluindo o fluxo em outras áreas.
Quando é necessário diminuir o volume de ônibus em
determinadas avenidas?
A diminuição do volume de ônibus em avenidas específicas é necessária
quando o fluxo de veículos se torna insustentável, gerando
congestionamentos excessivos, poluição sonora e atmosférica, e comprometendo a
eficiência de todo o sistema viário. Vários fatores indicam essa
necessidade:
- Congestionamento Crônico:
Quando o volume de ônibus, somado ao tráfego de outros veículos, excede a
capacidade da via, resultando em velocidades muito baixas e longos tempos
de percurso. A relação volume/capacidade (V/C) próxima ou acima de 1,0
indica saturação.
- Deterioração da Qualidade
do Serviço: Atrasos constantes, baixa regularidade e
superlotação dos ônibus, mesmo com alta frequência, podem indicar que a
via não suporta mais o volume de veículos.
- Impacto Ambiental e Urbano: Alto
volume de ônibus em avenidas residenciais ou comerciais pode gerar níveis
inaceitáveis de ruído e poluição, prejudicando a qualidade de vida e o
desenvolvimento urbano do entorno.
- Conflitos com Outros
Modais: Excessivo volume de ônibus pode criar conflitos com pedestres e
ciclistas, comprometendo a segurança e a acessibilidade para esses
usuários.
- Custo Operacional Elevado: O congestionamento aumenta o consumo de combustível e o desgaste dos veículos, elevando significativamente os custos operacionais das empresas de ônibus.
Para diminuir o volume de ônibus em avenidas problemáticas, várias estratégias podem ser adotadas, muitas delas ligadas à implantação de um sistema integrado e de terminais:
- Redesenho de Redes e Rotas:
- Sistemas
Tronco-Alimentadores: A criação de terminais de
integração permite que ônibus alimentadores coletem passageiros em áreas
residenciais e os transportem até o terminal. De lá, ônibus troncais (de
maior capacidade, como BRTs) fazem o percurso nas avenidas principais,
transportando um grande volume de passageiros em menos veículos. Isso
concentra o fluxo em corredores dedicados e reduz o número de ônibus nas
demais vias.
- Linhas
Expressas/Semi-expressas: Introdução de serviços
que pulam paradas ou trechos, otimizando o tempo de viagem e o uso da
via.
- Implantação de Corredores
Exclusivos (BRT/Busways): A alocação de faixas exclusivas para
ônibus em avenidas de alta demanda permite que um volume maior de ônibus
opere com maior velocidade e regularidade, sem interferir no tráfego
misto. Embora concentre os ônibus, melhora a eficiência e atrai mais passageiros,
podendo reduzir o número total de veículos individuais na via a longo
prazo.
- Melhoria da Gestão da Frota
e Frequência: Otimização dos intervalos e horários de
partida para evitar comboios de ônibus ou longos vazios, que contribuem
para o congestionamento. Sistemas AVL como o iBus em Londres são cruciais
para isso.
- Incentivo a Outros Modais:
Fomentar o uso de modos de transporte sustentáveis como caminhada,
bicicleta e transporte ferroviário/metroviário para reduzir a demanda por
ônibus e outros veículos nas vias.
- Políticas de Restrição de
Tráfego: Em casos extremos, pode-se considerar a restrição de circulação de
veículos individuais em determinadas avenidas ou horários, priorizando o
transporte público e outros modais.
Em síntese, a implantação de terminais de integração e um planejamento de rede inteligente são essenciais para gerenciar o volume de ônibus, otimizando o fluxo de passageiros e veículos nas vias, e garantindo um transporte público eficiente e de qualidade.
*A sigla AVL (que significa Automatic Vehicle Location, ou seja, Localização Automática De Veículos), define sistemas onde a tecnologia GPS é utilizada para o monitoramento de veículos.
0 Comentários