Em 1979,
a região do ABC Paulista testemunhou um dos mais significativos movimentos
trabalhistas da história do Brasil. Cerca de 200 mil metalúrgicos entraram em
greve, desafiando não apenas as condições de trabalho, mas também a autoridade
da ditadura militar que governava o país.
O Início da Mobilização
A greve
teve início em 13 de março, organizada por três sindicatos da região. As
indústrias automobilísticas estrangeiras, como Volks, Mercedes-Benz, Scania e
Ford, bem como outras empresas locais, viram suas operações completamente
paralisadas. A repressão do regime militar foi intensa, mas não conseguiu deter
a determinação dos trabalhadores.
Liderança e Repressão
Naquela
época, Luiz Inácio Lula da Silva, então presidente do Sindicato dos
Metalúrgicos do ABC, emergiu como uma figura central do movimento, discursando
para uma multidão no estádio municipal Vila Euclides. A greve foi declarada
ilegal pela Justiça, a pedido da Federação das Indústrias do Estado de São
Paulo (Fiesp), que se recusou a conceder um reajuste salarial acima de 44%.
A Resiliência dos Trabalhadores
Apesar
das adversidades, os metalúrgicos persistiram, utilizando um fundo de greve
para sustentar a mobilização. Cerca de 80 mil trabalhadores decidiram continuar
a greve até que suas demandas fossem atendidas. A solidariedade foi tamanha que
até o bispo de São Bernardo, dom Claudio Hummes, se juntou aos trabalhadores em
oração.
O Ápice da Tensão
A tensão
atingiu seu ápice quando forças policiais ocuparam São Bernardo, utilizando
tropas de choque e cavalaria para reprimir os grevistas. O governo federal
interveio nos sindicatos, forçando as reuniões a serem transferidas para a casa
paroquial da Igreja Matriz de São Bernardo.
Suspensão e Continuidade
Sob
intensa pressão e sugestão de Lula, a greve foi suspensa por 45 dias. No
entanto, isso não enfraqueceu o espírito dos trabalhadores, que continuaram a
se reunir e a se mobilizar, culminando em uma grande manifestação no Dia do
Trabalho, reunindo 150 mil pessoas.
O Fim da Greve e o Legado
Após um
período de negociações, a greve chegou ao fim com a aceitação de um reajuste de
63%. A intervenção federal foi suspensa e a diretoria eleita reassumiu o
sindicato em 18 de maio. O movimento não apenas alcançou um aumento salarial
significativo, mas também fortaleceu a capacidade de mobilização e organização
do movimento sindical metalúrgico, marcando um ponto de virada na luta pelos
direitos dos trabalhadores no Brasil.
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