Gama exige lotes na própria cidade


 Cerca de 500 moradores do Gama tomaram as ruas nesta quarta-feira (31) em protesto contra a demora na entrega de lotes urbanos. Carregando cartazes com frases como “Queremos lotes, já”, o grupo ocupou o Centro de Desenvolvimento Social (CDS) da cidade satélite para pressionar o secretário de Serviços Sociais, Haroldo de Castro, a responder às suas demandas. A principal reivindicação é clara: regularização fundiária imediata no próprio Gama, sem aceitar propostas de transferência para Samambaia. 

 Urgência e Desespero

A Associação dos Moradores do Gama, que representa 12 mil famílias inscritas, alerta para a situação crítica de muitas dessas pessoas. “Há gente morrendo de fome, comendo uma vasilha de arroz por dia. Não dá para esperar mais”, desabafou Maria Leônica da Silva, diretora social da entidade. Ela relatou que está contendo invasões de terras, mas a pressão popular aumenta à medida que as promessas governamentais se prolongam. 

 O presidente da associação, Francisco Barroso Filho, reforçou o tom de urgência: “Samambaia é um projeto para longo prazo. Não podemos esperar. O povo quer resolver sua vida agora”. A rejeição à proposta de reassentamento em Samambaia é unânime. Os moradores alegam que a área é alagadiça (“brejo”) e inadequada para construção, além de temerem que a mudança acelere o esvaziamento do Gama em benefício de outras regiões, como Taguatinga. 

 Impasses com o Governo 

As negociações com o secretário Haroldo de Castro têm sido tensas. Inicialmente, ele pediu que os moradores apresentassem uma área alternativa no próprio Gama. O grupo escolheu o Setor Norte, mas a proposta foi rejeitada sob a justificativa de que a região seria “rural” ou pertencente à Fundação Zoobotânica. Os moradores rebateram: “Se a área é da Terracap [empresa pública de gestão territorial], é do povo”, argumentou Maria Leônica, após uma reunião conturbada. 

 Diante do impasse, um novo projeto de ocupação foi elaborado e será entregue ao secretário na próxima semana. Barroso Filho, no entanto, mantém a desconfiança: “Já fizemos nossa parte. Agora, exigimos ação, não palavras”. 

 Samambaia: Um Futuro Indesejado 

Além dos problemas técnicos, os moradores enxergam na proposta de Samambaia uma estratégia política. “Se formos para lá, vamos trabalhar pelo crescimento de Taguatinga e o Gama ficará abandonado”, criticou Maria Leônica. O temor reflete uma descrença histórica em políticas públicas que, segundo os manifestantes, privilegiam o desenvolvimento de novas áreas em detrimento das já existentes. 

 Enquanto isso, as famílias seguem em limbo, entre a esperança de um teto próprio e o medo de serem esquecidas. O protesto de ontem foi um aviso: o Gama não aceitará mais promessas. A bola agora está com o governo.

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